A Ucrânia anunciou uma guinada estratégica em sua postura defensiva no momento em que os Estados Unidos suspendem temporariamente o envio de sistemas de defesa aérea. O governo norte-americano decidiu interromper o fornecimento dos sistemas Patriot e de outros armamentos críticos — como os mísseis Hellfire e Stinger — devido à escassez desses equipamentos nos próprios estoques. A medida reforça a prioridade dada pelos EUA à sua prontidão militar diante de ameaças globais, especialmente na China e no Oriente Médio.
Campanha aérea russa intensa
Para Kiev, porém, a medida chega em momento crítico. A Ucrânia enfrenta uma campanha aérea russa intensificada que agrava a necessidade de reforço de defesa antiaérea. Autoridades veem a decisão com preocupação e já alertaram para o risco de falta de mísseis Patriot, essenciais para neutralizar ataques de mísseis balísticos e drones russos.
Diante desse contexto, o ministro da Defesa ucraniano, Rustem Umerov, anunciou um ambicioso programa de produção armamentista conjunta com países da coalizão Ramstein. O plano foi revelado durante reunião do Ukraine Defense Contact Group, em que participam cerca de 57 nações, incluindo membros da OTAN e União Europeia. A proposta prevê a instalação de linhas de produção licenciadas para drones, mísseis, munições e sistemas eletrônicos, em território ucraniano e também em países aliados, mas com destino exclusivo às forças ucranianas. Diversas empresas europeias já estariam envolvidas no projeto.
O presidente Volodymyr Zelenskyy reforçou a urgência da iniciativa no mesmo encontro, afirmando que a Ucrânia precisa aumentar em ao menos 50% o volume de produção conjunta para suprir a demanda urgente de equipamentos. Já o vice-ministro Serhiy Boyev ressaltou a necessidade de investimento dos lucros oriundos de ativos congelados da Rússia para expandir essas capacidades industriais.
A tensão entre o congelamento temporário do apoio americano e a mobilização internacional pelo fortalecimento da base produtiva reflete uma estratégia dupla de Kiev: lidar com os desafios imediatos de segurança e construir uma autonomia militar mais sólida a longo prazo. Ao mesmo tempo em que busca socorro urgente, a Ucrânia aposta na integração de sua indústria à rede ocidental de defesa, reduzindo a dependência de sistemas caros e de fornecimento limitado.
Enquanto os EUA restringem o envio de armas sofisticadas por conta de sua mudança de conduta em relação à ajuda enviada, a Ucrânia avança em sua ambição de se tornar um polo de armamento na Europa. Isso exige coordenação entre aliados para enfrentar o dilema entre urgência e sustentabilidade militar.
Fontes: Wall Street Journal, Kyiv Independent, Kyiv Independent, RBC-Ukraine