Sem acesso ao Ocidente, turistas russos devem passar férias em resort de Kim Jong Un

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Coreia do Norte de olho em turistas russos para novo resort de praia, diz Seul. O resort deve abrir para visitantes domésticos em 1º de julho, disse a Agência Central de Notícias da Coreia.

Em mais um movimento que escancara o aprofundamento dos laços entre Pyongyang e Moscou, a Coreia do Norte pretende abrir seu recém-concluído resort na zona costeira de Wonsan-Kalma, primeiro para visitantes domésticos e, em seguida, para turistas russos. A informação foi confirmada por autoridades sul-coreanas e sinaliza uma tentativa de Kim Jong Un de faturar em moeda estrangeira, driblando parte das restrições impostas por sanções internacionais.

O megacomplexo turístico, capaz de abrigar até 20 mil hóspedes em hotéis e pousadas, foi apresentado à mídia estatal norte-coreana com pompa, em cerimônia na presença do próprio Kim Jong Un e de representantes da embaixada russa, convidados de honra. Não se trata de acaso: desde que a Coreia do Norte forneceu apoio militar à Rússia na guerra contra a Ucrânia, os dois regimes têm se aproximado de forma inédita, e a colaboração russa parece ter sido crucial para destravar as obras paralisadas do resort, retomadas apenas neste ano após anos de abandono e sanções sufocantes.

Embora as autoridades de Seul admitam que o turismo individual, pago diretamente pelos visitantes, não infringe as sanções da ONU, qualquer operação que envolva transferências volumosas de recursos ou joint ventures com o regime de Kim pode, sim, violar restrições internacionais. Ainda assim, a presença destacada do embaixador russo na inauguração do resort levanta dúvidas sobre se haverá repasses ocultos de valores ao governo norte-coreano, potencialmente mascarados como pacotes turísticos de luxo.

A Resolução 2270 do Conselho de Segurança da ONU proíbe a transferência de dinheiro em massa para a Coreia do Norte, e a Resolução 2375 proíbe todos os estados membros da ONU de criar novas joint ventures com entidades ou indivíduos norte-coreanos.

O objetivo de Kim Jong Un é claro: aproveitar ao máximo a demanda russa, num momento em que Moscou busca parceiros dispostos a romper o cerco ocidental. Para a Coreia do Norte, a oportunidade é duplamente estratégica: além de gerar receitas em moeda forte, consolida a aliança militar e diplomática com Vladimir Putin, algo que incomoda o Ocidente e ameaça redesenhar o equilíbrio de forças no Pacífico.

Apesar da retórica otimista de Pyongyang, analistas apontam que o fluxo real de turistas será limitado pela infraestrutura precária e pelas restrições logísticas — estima-se que, no máximo, 170 passageiros por dia possam chegar via Pyongyang a partir de Vladivostok, na Rússia. Ainda assim, o regime norte-coreano sinaliza estar disposto a apostar tudo nesse nicho russo, transformando a costa de Wonsan-Kalma em vitrine de uma aliança que pode ter consequências muito maiores do que meros banhos de mar.

Fonte: www.straitstimes.com

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