Novo governo sírio ligado a massacres contra alauítas

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Após a queda de Bashar al‑Assad, o novo governo liderado por Ahmed al‑Sharaa assumiu uma postura de unificação nacional. No entanto, em março deste ano, a aliança entre ex-militares, milícias sunitas e grupos estrangeiros desencadeou uma onda sistemática de violência sectária contra a comunidade alauíta – historicamente vinculada ao regime anterior. Isso resultou em pelo menos 1.479 mortos em cerca de 40 locais, de acordo com levantamento da Reuters.

Massacres

Os massacres ocorreram entre 7 e 9 de março nas regiões costeiras de Latakia, Tartus e Hama, após um levante liderado por remanescentes pró‑Assad que deixou 200 agentes do governo mortos. A violência, segundo fontes oficializadas, foi uma retaliação brutal aos alauítas, com relatos de execuções sumárias, mutilações e pilhagens. Sobreviventes descrevem cenas de ataques realizados por organizações extremistas e milícias apoiadas pela Turquia, como a “Sultan Suleiman Shah Brigade” e a “Hamza Division“. Através de análises de vídeos postados pelos membros das brigadas na internet, foi possível confirmar a presença deles nos locais onde os assassinatos ocorreram.

A investigação da Reuters identifica cinco grupos principais como responsáveis: unidades do HTS (antiga al‑Qaeda) – incluindo a “Unit 400” e a “Othman Brigade” –, milícias turcas, facções sunitas locais, combatentes estrangeiros (uzbeques, chechenos, turquistanos) e civis armados sunitas. Todos colaboraram em atrocidades contra civis.

O total de vítimas varia conforme diferentes fontes: a Reuters confirma 1.479 mortos; a ONU e outros grupos como o SOHR e o SNHR documentaram entre 1.084 e 1.614 vítimas — a maioria civis desarmados e ex‑combatentes do antigo governo.

Comissões de investigação

Em resposta, o governo interino decretou a formação de comissões de investigação, prometendo responsabilização. “Ninguém está acima da lei“, declarou o porta-voz da comissão, Yasser Farhan. No entanto, até o momento, nenhuma punição concreta foi aplicada, nem contra violentos militantes nem contra lideranças das milícias envolvidas.

Os ataques também suscitaram temor intergeracional. A ONU e comissões independentes relataram desaparecimentos de mulheres alauítas — 33 casos registrados apenas em junho — com sequestros e exigências de resgate, causando pânico na comunidade.

Para a comunidade alauíta, eventos como o massacre em Arza e Baniyas, que registraram trezentas mortes, abriram feridas históricas. Os deslocados internos cruzaram para o Líbano, em busca de segurança, enquanto muitos permanecem escondidos nas comunidades vizinhas.

A Comissão da ONU para a Síria, representada por Paulo Pinheiro, definiu os ataques como “extremamente perturbadores” e exigiu medidas imediatas de proteção às minorias religiosas, além de investigação aprofundada.

Especialistas alertam que a inclusão de facções heterogêneas no novo exército contribuiu para a descoordenada implantação de forças no litoral, o que facilitou execuções e o recrutamento de brigadas milicianas com histórico sectário. A dependência desses grupos fragiliza o Estado, criando zonas de impunidade e ameaçando a unidade nacional.

A violência desencadeada expõe a fragilidade da reconciliação em uma Síria fragmentada — minorias como os alauítas ainda vivem sob medo constante, com dignidade e futuro em jogo. O governo al‑Sharaa enfrenta agora a difícil missão de reconciliação sectária, probidade e justiça, antes que a democracia pretendida dê espaço ao retorno silencioso da estrutura autoritária que promete combater.

Fontes: Reuters, Reuters, Times of Israel

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