O Reino Unido anunciou nesta quarta-feira (25) a compra de 12 caças F‑35A, fabricados pela Lockheed Martin, com capacidade para transportar armas nucleares táticas, fortalecendo sua postura estratégica e voltando a integrar a missão nuclear aérea da OTAN.
A aquisição representa a retomada da capacidade de ataque nuclear por via aérea pela Real Força Aérea Britânica — algo inédito desde o fim da Guerra Fria — uma vez que, desde 1998, o Reino Unido dependia exclusivamente da dissuasão submarina (Trident). A decisão foi formalizada ao longo da cúpula da OTAN, em Haia, onde o primeiro-ministro Sir Keir Starmer ressaltou a necessidade de responder à “era de incerteza radical” imposta pela guerra na Ucrânia e outras ameaças globais.
Os jatos serão baseados na RAF Marham, em Norfolk, e integrados ao programa “Dual Capable Aircraft” da OTAN. Eles terão a capacidade de transportar bombas americanas B61‑12, armazenadas em solo britânico, embora seu uso dependa da aprovação dos líderes da Aliança e do presidente dos EUA.
O secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, saudou a medida como “um robusto reforço britânico para a Aliança“. Além disso, o governo britânico confirmou o compromisso de elevar os gastos militares a 5% do PIB até 2035, alinhando-se às exigências dos EUA e da OTAN.
Especialistas apontam que os F‑35A são mais econômicos em operação do que os modelos F‑35B, já em uso nos porta-aviões britânicos, dispensando operações de pouso vertical e trazendo menor custo de manutenção. O plano do Reino Unido contempla a compra total de 138 caças da família F‑35, reforçando sua capacidade de defesa em múltiplas frentes.
A aquisição chega em um momento de forte tensão global e pressão diplomática. O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, tem exigido de aliados da OTAN maior investimento em defesa, e a Rússia tem intensificado sua presença militar ao redor da Europa.
Economicamente, o programa promete gerar benefícios significativos. Estima-se que ele sustentará mais de 20 mil empregos no Reino Unido, com 15% da cadeia global de suprimentos do F‑35 baseada localmente, envolvendo empresas como BAE Systems, Rolls‑Royce e GE Aviation.
Por outro lado, movimentos antinucleares, incluindo parte da sociedade civil e ambientalistas, criticam a revogação da postura de não proliferação, alertando para o risco de retomada da corrida armamentista e ameaça à estabilidade regional.
A expansão das capacidades nucleares aéreas britânicas ocorre num contexto em que cerca de sete países da OTAN (EUA, Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda e Turquia) já participam do programa nuclear compartilhado, que permite armas B61 em suas bases.
Essa decisão representa a maior modernização da dissuasão nuclear britânica das últimas décadas, ampliando os meios de projeção militar — de submarinos para aeronaves — e reforçando o papel do Reino Unido em defesa coletiva, cibersegurança e capacidade de resposta rápida.
O anúncio reforça o comprometimento do Reino Unido com a segurança euro-atlântica, mas reacende debates sobre o papel das armas nucleares numa estratégia de defesa contemporânea, que enfrenta desafios como escalada tecnológica, crises globais e a necessidade de mecanismos multilaterais de controle.
Fontes: Financial Times, Reuters, CNN