Conheça a diferença entre um programa nuclear pacífico no Oriente Médio e o do Irã

O programa nuclear dos Emirados Árabes Unidos (EAU) é um exemplo notável de como a energia nuclear pode ser desenvolvida de forma pacífica, transparente e sustentável, mesmo em uma região marcada por tensões geopolíticas como o Oriente Médio. Com o objetivo de diversificar sua matriz energética, garantir segurança energética e contribuir para a redução de emissões de carbono, os EAU construíram um programa que combina tecnologia avançada, cooperação internacional e um compromisso firme com a não proliferação. Este artigo explora os principais aspectos do programa nuclear emiradense, destacando sua usina de Barakah, suas políticas de transparência e seu impacto econômico e ambiental, demonstrando que é possível implementar um programa nuclear legitimamente pacífico em um contexto regional complexo. A necessidade de energia nuclear Os Emirados Árabes Unidos, conhecidos por suas vastas reservas de petróleo e gás, enfrentaram nas últimas décadas um aumento significativo na demanda por eletricidade, impulsionado pelo crescimento econômico, populacional e pela necessidade de suportar infraestrutura intensiva em energia, como sistemas de ar condicionado e plantas de dessalinização. Além disso, o país possui uma das maiores pegadas de carbono per capita do mundo, o que o levou a buscar fontes de energia mais limpas para alinhar-se às metas climáticas globais, como o Acordo de Paris e a Estratégia de Energia 2050, que visa emissões líquidas zero até 2050. Nesse cenário, a energia nuclear emergiu como uma solução estratégica. Capaz de fornecer eletricidade estável em grande escala, a energia nuclear é ideal para atender às demandas energéticas do país sem depender exclusivamente de combustíveis fósseis. Em 2006, os EAU iniciaram estudos para explorar a viabilidade da energia nuclear, culminando na criação da Emirates Nuclear Energy Corporation (ENEC) em 2009. A ENEC foi encarregada de liderar o programa, com a usina nuclear de Barakah, localizada na região de Al Dhafra, em Abu Dhabi, como o projeto central. A escolha do local foi estratégica, aproveitando a proximidade com o Golfo Pérsico para facilitar logística e acesso a recursos hídricos. A Usina de Barakah A usina nuclear de Barakah é o coração do programa nuclear dos EAU. Composta por quatro reatores APR-1400, cada um com capacidade de 1.400 MW, a usina totaliza 5.600 MW de potência, fornecendo até 25% da eletricidade consumida no país. A construção começou em 2012, com o primeiro reator conectado à rede em 2020 e o quarto entrando em operação comercial em 2024, marcando a conclusão do projeto. Operada pela Nawah Energy Company, uma joint venture entre a ENEC e parceiros internacionais, a usina incorpora tecnologia avançada de segurança, incluindo sistemas de resfriamento passivo que permitem operação segura por até 72 horas sem intervenção humana e estruturas de contenção robustas para resistir a impactos externos. O impacto ambiental de Barakah é significativo. Produzindo 40 terawatts-hora (TWh) de eletricidade limpa por ano, a usina evita a emissão de 22,4 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) anualmente, o equivalente a retirar 4,8 milhões de carros das estradas. Esse desempenho posiciona Barakah como a maior fonte de energia limpa dos EAU, contribuindo diretamente para as metas de descarbonização do país. A energia nuclear, ao contrário de fontes intermitentes como solar ou eólica, oferece fornecimento constante, essencial para suportar a infraestrutura energética dos EAU, incluindo a dessalinização de água, vital em uma região árida. Compromisso com a não proliferação Um dos pilares do programa nuclear dos EAU é seu compromisso com o uso estritamente pacífico da energia nuclear, reforçado por políticas de transparência e adesão a normas internacionais. O país é signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) desde 1995, um acordo que proíbe o desenvolvimento de armas nucleares e exige cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para verificação. Em 2010, os EAU adotaram o Protocolo Adicional da AIEA, que amplia o acesso da agência a informações e instalações, permitindo inspeções mais detalhadas para garantir que não haja atividades nucleares não declaradas. Um diferencial marcante do programa é a adoção da chamada “cláusula de ouro”, formalizada em uma lei federal de 2009, que proíbe o enriquecimento de urânio e o reprocessamento de combustível nuclear no território emiradense. Essas atividades, que poderiam ser usadas para produzir materiais físseis para armas nucleares, foram descartadas para eliminar qualquer risco de proliferação. Essa política contrasta com outros programas regionais e reforça a credibilidade dos EAU perante a comunidade internacional. A AIEA reconheceu esse compromisso, concedendo ao país a “Conclusão Mais Ampla” por vários anos consecutivos, um selo que confirma que todo material nuclear declarado é usado exclusivamente para fins pacíficos. Cooperação internacional O sucesso do programa nuclear dos EAU é sustentado por uma rede robusta de parcerias internacionais. Um marco importante é o Acordo 123 com os Estados Unidos, assinado em 2009, que facilita a transferência de tecnologia nuclear sob condições rigorosas de não proliferação. Esse acordo, conhecido como “padrão ouro”, reflete o compromisso dos EAU de manter seu programa dentro dos mais altos padrões de segurança e transparência. Além dos EUA, os EAU estabeleceram colaborações com países como Coreia do Sul, responsável pela construção de Barakah por meio da Korea Electric Power Corporation (KEPCO), além de França, Japão, Canadá e Rússia. Essas parcerias trouxeram expertise técnica, equipamentos e treinamento, garantindo a operação segura e eficiente da usina. A AIEA também desempenha um papel central, supervisionando o programa e elogiando a abordagem dos EAU. A agência destacou a usina de Barakah como um exemplo de como a energia nuclear pode ser implementada com responsabilidade, servindo como referência para outros países. A participação dos EAU em organizações como a Associação Mundial de Operadores Nucleares (WANO) reforça seu compromisso com padrões globais de segurança e operação. Impacto Econômico e Social: Além da Energia O programa nuclear dos EAU vai além da geração de eletricidade, trazendo benefícios econômicos e sociais significativos. A construção de Barakah gerou milhares de empregos diretos e indiretos, impulsionando setores como engenharia, construção e serviços. A produção de eletricidade no país permite que os EAU exportem mais petróleo e gás, aumentando suas receitas e fortalecendo sua posição
Sionismo é Nazismo?

Nas redes sociais, é comum encontrar postagens que equiparam o sionismo ao nazismo, com o objetivo de insultar Israel, acusado de práticas como limpeza étnica em Gaza e de suposta colaboração com os nazistas por meio de acordos como o Haavara. Essa comparação, porém, é válida? Este texto analisa os argumentos apresentados e verifica se há fundamento na equiparação entre sionismo e nazismo, com base no documento fornecido. O sionismo político, conforme descrito, é a crença na possibilidade de existência e manutenção de um Estado judaico, fundado e mantido por judeus. Essa é a essência do sionismo: a convicção de que um Estado caracteristicamente judaico é viável. Por outro lado, o nazismo tinha como núcleo o antissemitismo, uma ideologia que considerava os judeus uma ameaça existencial à humanidade, especialmente à suposta superioridade da raça ariana. Para avaliar a comparação, é necessário examinar se o pensamento antissemita nazista se alinha com os fundamentos do sionismo. O antissemitismo era central ao nazismo O antissemitismo era central ao nazismo. Alfred Rosenberg, um dos principais ideólogos nazistas, desenvolveu a teoria de uma conspiração judaica global, inspirado pelo documento falso Protocolos dos Sábios de Sião. Segundo Rosenberg, os judeus promoviam sua dominação por meio do bolchevismo e do sionismo internacional. Ele acreditava que os judeus não tinham capacidade nem intenção de criar um Estado no sentido europeu, mas usariam um suposto “Estado” judaico para expandir sua exploração: “devido a condição de explorador da cultura ariana, o ‘Estado’ judeu apenas serviria para ampliar a exploração e avançar a dominação do mundo“.[1] Hitler, influenciado por Rosenberg, adotou uma visão social-darwinista que enfatizava a superioridade da raça ariana, determinada por fatores genéticos: “Em primeiro lugar, o valor inteiro de um povo, que passa de geração em geração como herança e genótipo – valor que só sofre alteração quando o portador dessa herança, o próprio povo, muda em termos de sua composição genética. É certo que os traços individuais de caráter, as virtudes individuais e os vícios individuais sempre se repetem nos povos enquanto sua natureza interior, sua composição genética, não sofre nenhuma mudança essencial“.[2] Para Hitler, os arianos desenvolveram características altruístas e laboriosas devido às duras condições do Norte: “Podemos ver essa dificuldade no início da pré-história, sobretudo na parte Norte do mundo, naqueles enormes desertos de gelo onde apenas a existência mais escassa era possível. Aqui, os homens foram forçados a lutar por sua existência, por coisas que estavam, no sorridente Sul, disponíveis sem trabalho e em abundância. O Norte forçou os homens a continuarem suas atividades de produção de roupas e construção de residências. Primeiro, eram cavernas simples, depois cabanas e casas. Em suma, ele criou um princípio, o princípio do trabalho“.[3] Claramente, para Hitler, o ariano desenvolveu uma genética “altruísta“, onde o indivíduo ariano prontamente se sacrificava pela sua coletividade e amava o trabalho pelo trabalho, motivo pelo qual o capacitava para criar uma cultura e fundar e manter Estados. Tal juízo social-darwinista foi igualmente reforçado no infame Mein Kampf. O ariano se desenvolveu para trabalhar e criar comunidades, cultura e Estados, e o judeu para furtar, enganar e explorar o trabalho e a cultura do ariano. A antítese Em contraste, Hitler via os judeus como a antítese dos arianos. Ele acreditava que os judeus, evoluídos em condições diferentes, desenvolveram traços egoístas e parasitários: “O ariano entende o trabalho como a base para a preservação da comunidade do povo, o judeu o vê como um meio de explorar outros povos… Não importa se esse indivíduo judeu é ‘decente’ ou não. Ele traz dentro de si os traços de caráter que a natureza lhe deu, e nunca pode se livrar disso“.[4] Hitler, claramente, cria uma oposição irreconciliável entre a raça ariana e a judaica porque o que não apenas as separava, mas as colocava numa rota de colisão, eram as respectivas características genéticas de cada uma, desenvolvidas durante milhares de anos e, por isso mesmo, inexpugnáveis. O ariano se desenvolveu para trabalhar e criar comunidades, cultura e Estados, e o judeu para furtar, enganar e explorar o trabalho e a cultura do ariano. O mito histórico de Hitler, motivado pela ideologia racial, sobre a missão cultural da humanidade ariana encontrou sua complementação no contramito da “missão mundial” judaica. De acordo com as características essenciais atribuídas por Hitler ao judaísmo, essa “missão” da raça judaica, no entanto, não poderia ter um caráter de construção cultural ou formação de Estados, mas apenas um caráter de destruição cultural e de subversão dos Estados. Para Hitler, portanto, o judaísmo se destacava por uma falta de todas as características que qualificavam a raça ariana para a atividade cultural e a criatividade intelectual: incapacidade de pensar de forma inovadora; interpretação do fenômeno do “trabalho” como uma mera tarefa material para satisfazer necessidades e interesses pessoais; tendência a um estilo de vida “parasitário” às custas de outras nações; — esses eram os traços de caráter preferencialmente citados por Hitler para caracterizar a “contra-raça” judaica.[5] É uma evolução considerável da mera “conspiração judaica” como percebida por Rosenberg ou outros antissemitas vulgares, mas uma visão histórica dualista na qual o “bem” e o “mal” encontravam-se perfeitamente delineados nas duas raças antitéticas em conflito. O arianismo e o judaísmo estavam interligados de forma complementar, assim como ação e reação, tese e antítese, formando um curso histórico que obteve “sua verdadeira dinâmica por meio da relação dialética entre dois princípios mundiais antagonistas [arianismo x judaísmo]”, cuja resolução se daria apenas com a “indubitável aniquilação do envenenador povo judeu“.[6] O pensamento antissemita de Hitler alcançou seu ápice numa interpretação histórica na qual as duas raças antitéticas estavam em rota de colisão inevitável. De um lado, os arianos, a raça criadora da cultura, da civilização e mantenedora do Estado; do outro, os judeus, os exploradores egoístas que dependiam da espoliação dos bens culturais arianos para sobreviverem. O desenlace desse embate apocalíptico decidiria o destino da civilização humana: caso os arianos perdessem, a civilização e a cultura estariam perdidas. Incompatíveis Agora, tendo em mente a base do radical, social-darwinista
Distopia Moderna: democracias seduzidas pelo Totalitarismo

Daniela Russowsky Raad, associada do Instituto de Estudos Empresariais (IEE) e presidente da Federação Israelita do RS O Oriente Médio vive uma guerra anunciada há décadas, mas que escancara uma polarização impensável em pleno século 21. Uma verdadeira distopia contemporânea, em que sociedades livres – outrora firmes em seus valores – se veem seduzidas por ideais totalitários travestidos de discursos de justiça. A guerra entre Israel e Irã não é apenas geopolítica: é reveladora dos maiores dilemas morais do nosso tempo. Israel, uma democracia em meio a regimes teocráticos e ditatoriais, é o único Estado judeu do mundo, com cerca de 10 milhões de habitantes. Concretização do ideal sionista, Israel surgiu após o exílio milenar do povo judeu e mantém uma conexão ancestral com sua terra, datada de mais de três mil anos. Hoje é reconhecido como a “Startup Nation”, com a maior densidade de inovações tecnológicas do planeta. Desde a independência, Israel travou guerras existenciais com países árabes que rejeitavam sua criação. Com o tempo, no entanto, vários desses países passaram a aceitar a realidade israelense, como Egito, Jordânia, Emirados Árabes Unidos e Bahrein, que assinaram tratados de paz e entenderam o benefício da cooperação e do progresso conjunto. Por outro lado, a resistência à existência do pequeno Estado judeu, verdadeiramente democrático, na região é fato inconcebível para determinados grupos radicais islâmicos que, desde muito antes de sua fundação, pregavam a instalação de um regime teocrático islâmico único. É o caso da Irmandade Muçulmana, fundada em 1928, no Egito, e banida dos países árabes em razão de suas ideias radicais e ações violentas. A destruição de Israel segue sendo o objetivo primordial de grupos terroristas como Hamas, Hezbollah e Al-Qaeda – todos unidos por um ponto em comum: a República Islâmica do Irã. Os iranianos são ancestrais da sua terra, tais quais os judeus. Antes da Revolução Islâmica, o Irã – historicamente conhecido como Pérsia, e hoje com cerca de 90 milhões de habitantes – vivia um processo de modernização. Mulheres atuavam como juízas, ministras, e podiam circular livremente. A partir de 1979, esse cenário foi substituído pela imposição da sharia, pela repressão sistemática, por linchamento e execução de pessoas em público, cerceamento da liberdade religiosa, opressão das mulheres e homossexuais, e pela exportação do fundamentalismo. O regime instaurou um modelo de terror interno e externo, com execuções públicas, censura, prisões políticas e desaparecimentos. Fora de suas fronteiras, o Irã atua por meio de proxies – grupos terroristas que alimenta ideológica e financeiramente. Seu objetivo declarado é a destruição da visão de mundo ocidental, iniciando-se por Israel (o “pequeno satã”) e pelos Estados Unidos (o “grande satã”), além da imposição de sua visão teocrática ao mundo. Recentemente, e ignorando apelos diplomáticos incessantes, o Irã chegou a um ponto sem retorno: atingiu a capacidade concreta de produção de armas nucleares e arsenal de mísseis capazes de destruir não apenas Israel, mas também tantas outras nações que não aceitam a sua visão radical de mundo. A um passo de deter a mais potente arma destrutiva mundial, capaz de destruir a realidade na qual vivemos, Israel, ciente do risco existencial que representa um Irã nuclear, passou a realizar ações militares cirúrgicas contra alvos estratégicos do regime. O que vemos hoje não começou há poucas semanas, nem com as dezenas de milhares de mísseis disparados contra Israel desde o ataque terrorista de 2023. As primeiras vítimas do regime iraniano foram seus próprios cidadãos – e as próximas serão todos os que defendem a liberdade, a democracia e os direitos humanos. A guerra contra o modo de vida ocidental já foi há muito declarada por terroristas: não nos esqueçamos do 11 de setembro de 2001, com o ataque às Torres Gêmeas, executado pela Al-Qaeda; do maior ataque terrorista da América Latina, em 1994, em Buenos Aires, realizado pelo Hezbollah; ou do maior massacre de judeus desde o Holocausto, em outubro de 2023, em Israel, perpetrado pelo Hamas – entre, infelizmente, tantos outros que marcam a nossa história. O clamor por liberdade feito em nome da opressão; a defesa dos direitos humanos usada para justificar quem os nega. Daniela Russowsky Raad É precisamente neste ponto que a guerra entre Israel e Irã se torna um espelho incômodo para o Ocidente. Universidades e veículos de mídia que exaltam grupos fundamentalistas revelam uma distorção preocupante: o clamor por liberdade feito em nome da opressão; a defesa dos direitos humanos usada para justificar quem os nega. Sociedades livres que se voltam contra seus próprios valores correm o risco de perder aquilo que as define. Diante desse cenário, a pergunta que ecoa é urgente: para onde estamos caminhando? Uma geração que nunca precisou lutar pela sua liberdade talvez não tenha a noção do preço de mantê-la.
Os ensinamentos após o ataque do 7 de outubro – Como o Hamas usou OSINT contra Israel

Na primeira parte do artigo, publicada ontem, além de contextualizar o atual conflito entre Israel e Palestina dentro de ciclos de violência recentes, esmiuçamos os motivos pelos quais o Estado de Israel falhou miseravelmente em evitar o maior massacre de judeus desde o holocausto. Nesta segunda e última parte, iremos abordar os impactos e as lições (a serem) aprendidas pela Comunidade de Inteligência (IC) israelense, sob a ótica de um dos maiores acadêmicos do mundo nessa área – e ex-oficial do Shin Bet – Avner Barnea. O impacto da inteligência de fontes abertas (OSINT) A Inteligência de fontes abertas (OSINT, na sigla em inglês) refere-se à coleta e análise de informações obtidas de fontes publicamente disponíveis. Por exemplo: mapas, transmissão da mídia, postagens em mídias sociais, registros oficiais públicos, etc. O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 demonstrou a importância da OSINT na guerra moderna, utilizando-a de forma eficaz para: As lições (a serem) aprendidas O “7 de outubro” expôs uma série de falhas nas capacidades de inteligência de Israel, que podem servir como lições valiosas não apenas para o país, mas também para outras nações que enfrentam ameaças semelhantes. As principais lições aprendidas com esse evento incluem: SIGINT significa Signals Intelligence (Inteligência de Sinais) e refere-se à coleta de informações a partir da interceptação e análise de sinais eletrônicos, como comunicações de rádio, transmissões de radar e sinais de satélite. A HUMINT, ou Inteligência Humana, é a coleta de informações por meio de fontes humanas, como espiões, informantes e interrogatórios. A influência da dimensão humana Deixei para o final uma lição fundamental a ser aprendida pela IC israelense: a influência da dimensão humana. É crucial reconhecer a influência de vieses cognitivos, como o wishful thinking e a tendência à confirmação, na interpretação de informações pelos analistas. “Vocês têm olhos, mas não têm cérebro” Já ficou bastante claro ao longo de todo o artigo que tanto os oficiais de inteligência quanto os decisores políticos falharam em suas atribuições. Os primeiros em desconsiderar as informações coletadas por seus agentes, os segundos em negligenciar uma potencial ameaça ao Estado de Israel. E a dimensão humana faz parte disso. Quando agentes de campo relataram a seu superior sobre a iminência de um ataque do Hamas, aconteceu uma cena absurda. Com todos os membros daquela divisão de inteligência reunidos, o superior não apenas negligenciou o relatório recebido, como também pôs em causa a capacidade das agentes, apenas por serem… mulheres! “Vocês têm olhos, mas não têm cérebro”, disse o oficial sênior de inteligência, em referência a uma suposta tendência histérica das mulheres. Preconcepções equivocadas são apenas indesejáveis quando limitadas ao convívio social, podendo ser delituosas em um contexto profissional, mas, quando se trata de atividades críticas – como a da Segurança Nacional – elas podem ser fatais. O 7 de outubro de 2023 foi uma prova disso. Por outro lado, o desenvolvimento de protocolos mais rigorosos, a promoção da diversidade de pensamento dentro das agências de inteligência e a criação de mecanismos para desafiar as suposições e crenças preconcebidas podem ajudar a mitigar esses vieses e aprimorar a qualidade da análise de inteligência. Conclusão O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 foi uma surpresa estratégica e tática para Israel, expondo falhas significativas nas capacidades de inteligência do país. O ataque demonstrou que o Hamas, um grupo que durante muito tempo foi subestimado por Israel, evoluiu para uma organização militar sofisticada, capaz de planejar e executar uma operação complexa em larga escala, explorando as vulnerabilidades de Israel e enganando sua IC. A subestimação do Hamas como um ator “terrorista” e a superestimação das capacidades defensivas de Israel contribuíram para a falha de inteligência. Havia uma falsa sensação de segurança que impediu que o país se preparasse adequadamente para uma ameaça real. É necessário que Israel reforme e aprimore suas práticas de inteligência para enfrentar as ameaças em constante evolução . As lições aprendidas com esse evento devem servir como um guia para Israel e outras nações que buscam fortalecer suas capacidades de inteligência e evitar surpresas estratégicas devastadoras. Baseado no artigo “Israeli Intelligence Was Caught Off Guard: The Hamas Attack on 7 October 2023—A Preliminary Analysis”, de Avner Barnea, publicado no International Journal of Intelligence and CounterIntelligence. Avner Barnea é pesquisador do National Security Studies Center, Universidade de Haifa. Ele foi oficial da Agência de Segurança de Israel (Shin Bet). Leia a primeira parte do artigo: Como o Hamas colocou Israel para “dormir” no 7 de outubro – Danuzio
Alta da SELIC indica problemas no governo?

Os dias 17 e 18 de junho foram marcados pela reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), onde seria avaliada a movimentação da taxa básica de juros da economia (SELIC). O Banco Central e seus representantes teriam três opções: queda, manutenção ou alta da taxa SELIC, cada uma dessas opções gerando um efeito na economia do país. Dentre as opções apresentadas, a que melhor representaria um equilíbrio das contas públicas e avanço da economia brasileira seria a queda da taxa básica. Isto funcionaria na atualidade como uma chancela de que a narrativa do governo acerca de responsabilidade fiscal e saúde das contas públicas são realmente promissoras e não apenas narrativas jogadas ao vento. A decisão unânime dos nove integrantes do COPOM foi de aumento da taxa SELIC em 0,25%, elevando a taxa para 15% ao ano. Esta alta representa uma preocupação do Comitê em relação à sustentabilidade das contas do governo. A expansão do crédito e o aumento desenfreado dos gastos do governo foram, provavelmente, os fatores de preocupação que ensejaram a decisão dos membros do COPOM, uma vez que essa conduta eleva a inflação e a função precípua do Banco Central é o controle deste efeito danoso à economia. O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula, tem apresentado um comportamento divergente do esperado pela base governista. As críticas dos integrantes do governo ao antigo presidente da autarquia expressavam todo o desprezo ao conhecimento técnico aplicado às decisões, sendo a ata do COPOM, documento que detalha o racional da medida adotada, ridicularizada e desacreditada pela cúpula do Partido dos Trabalhadores. A situação chegou a níveis tão absurdos que, no meio dos analistas de mercado e investimentos, era esperada a Ata da Gleise, uma alusão às críticas recorrentes da Presidente do PT às decisões do Banco Central. A conduta do COPOM indica um desajuste e necessidade de correção de rumos na política econômica do governo. Se nada for feito, corre-se o risco de um resfriamento da atividade econômica mais severa, ou seja, a temida recessão bate à porta e dá sinais claros de que pode levar o Brasil para níveis de desemprego e estagnação da atividade produtiva parecidos com o que se viu na pandemia do COVID-19. Logicamente, isto não depende apenas da decisão dos integrantes do governo, mas sim da aprovação do congresso, que já sinalizou algumas medidas que representam revés à equipe econômica do governo, como por exemplo, a rejeição ao aumento do IOF como medida arrecadatória. Se o cenário global continuar se deteriorando, escalando as guerras em andamento ou surgindo outras frentes de batalha, é possível que tenhamos boas oportunidades de suprir a necessidade de produtos aos países beligerantes e a outros que consumiam deles. Para que isso seja viável, o Brasil precisa se organizar e se preparar, elevando o nível de produtividade, não o de consumo. Atualmente, a expansão do crédito e o aumento dos gastos do governo têm funcionado como uma âncora ao crescimento, dificultando a evolução estrutural do país, que numa situação mais otimista, pode aproveitar a demanda global gerada pelos diversos conflitos em andamento.
Como o Hamas colocou Israel para “dormir” no 7 de outubro

A surpresa estratégica sofrida por Israel com o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 resultou no maior massacre de judeus em um único dia desde o Holocausto. É crucial, então, que aquele Estado investigue a falha de sua Comunidade de Inteligência (IC), não apenas para responsabilizar os culpados, como também para prevenir ataques futuros. Passado tanto tempo desde o episódio, muitas respostas já foram encontradas. Neste, e em outro artigo a ser publicado amanhã, irei demonstrar algumas dessas conclusões. Os quatro ciclos de violência Importante destacarmos que há um histórico recente de conflitos entre Hamas e Israel que resultaram em incursões militares no interior da Faixa de Gaza desde a saída unilateral de Israel daquele território. Operação Chumbo Fundido (2008): Desencadeada por um aumento nos ataques de foguetes do Hamas contra Israel. A operação durou 3 semanas. O conflito resultou em um grande número de baixas palestinas, incluindo civis, e na destruição significativa de infraestruturas em Gaza. Apesar de Israel ter declarado vitória, o Hamas se recuperou rapidamente e continuou a representar uma ameaça significativa. Operação Pilar de Defesa (2012): Em resposta a um novo aumento nos ataques de foguetes do Hamas, Israel empreendeu 1 semana de operações. Os alvos foram lançadores de foguetes, túneis e centros de comando. A operação resultou na morte de Ahmed Jabari, líder militar do Hamas, e na redução temporária dos ataques de foguetes. Operação Margem Protetora (2014): Motivada pelo sequestro e assassinato de três adolescentes israelenses na Cisjordânia, foi o conflito mais longo até então: 50 dias. O conflito resultou em um grande número de baixas em ambos os lados e na destruição significativa de infraestruturas em Gaza. Operação Guardião das Muralhas (2021): Desencadeada por confrontos entre palestinos e a polícia israelense em Jerusalém Oriental, durante o mês sagrado do Ramadã. Em 11 dias, o Hamas disparou mais de 4.000 foguetes, enquanto Israel realizou centenas de ataques aéreos. O conflito resultou em um grande número de baixas palestinas, incluindo civis, e na destruição de infraestruturas em Gaza. A cobertura de inteligência de Gaza antes de 7 de outubro Em 2017, foi publicado o relatório do Controlador do Estado de Israel sobre a Operação Margem Protetora (2014). Nele, foram reveladas falhas sistemáticas na cobertura de inteligência de Gaza por parte da IC israelense. O relatório identificou uma série de deficiências que contribuíram para a incapacidade de Israel em prever e prevenir o conflito, incluindo: O relatório do Controlador do Estado ainda questionou por que a Faixa de Gaza não foi formalmente definida como um “estado-alvo” pela IC israelense, mesmo após a tomada do poder pelo Hamas em 2007. Essa falta de clareza na definição da ameaça pode ter contribuído para a subestimação do Hamas e a falha em dedicar recursos adequados para cobrir suas atividades. A definição de um “estado-alvo” implica em uma série de medidas, como a intensificação da coleta de inteligência, o desenvolvimento de planos de contingência e a alocação de recursos específicos para lidar com a ameaça. Sinais do 7 de outubro foram mal interpretados e ignorados Semanas antes do ataque, um analista da Unidade 8200 – a unidade de inteligência de sinais de elite das IDF – elaborou um relatório detalhado que previa um ataque em larga escala do Hamas. O relatório, com cerca de 40 páginas e codinome “Muro de Jericó”, descrevia em detalhes o plano do Hamas, incluindo um exercício militar do Hamas transmitido pela mídia palestina. Apesar da riqueza de detalhes e da gravidade das informações contidas no relatório, ele foi ignorado pelos altos escalões da IC israelense. A principal razão foi a descrença dos oficiais de inteligência na capacidade do Hamas de realizar um ataque tão sofisticado e em larga escala. Na noite anterior ao ataque, a inteligência israelense detectou uma série de “sinais fracos” que, em retrospectiva, indicavam a iminência de uma ofensiva em larga escala do Hamas. Sinais fracos são informações aparentemente aleatórias ou desconexas que, a princípio, parecem ser ruído de fundo, mas podem ser reconhecidas como um padrão significativo se conectadas a outras informações. Esses sinais incluíam “conversas” suspeitas em canais de comunicação do Hamas, interceptadas pelo IMI, e movimentos incomuns de combatentes do Hamas perto da cerca de fronteira, observados pelos sistemas de vigilância israelenses. A desconsideração desses sinais pode ser atribuída a uma série de fatores: Fadiga e cegueira israelenses Fadiga de alerta é um fenômeno comum em situações de ameaça persistente, em que a exposição constante a alertas e informações sobre possíveis ataques pode levar à dessensibilização e à dificuldade em discernir entre ameaças reais e falsas. Já em abril de 2023, o departamento de inteligência do Comando Sul das Forças de Defesa de Israel (IDF) emitiu um alerta interno sobre uma possível infiltração do Hamas nos kibutzim (comunidades coletivas em Israel). Este alerta seguiu informações concretas recebidas sobre um ataque planejado pela organização terrorista. Em agosto, semanas antes do ataque ocorrer, novas informações indicaram que um ataque era iminente. As IDF aumentaram o alerta. Quando nenhum ataque ocorreu em agosto, as IDF acreditaram que o ataque havia sido interrompido, apenas para descobrir mais tarde que isso fazia parte do plano de engano do Hamas. O Hamas conseguiu “colocar Israel para dormir” durante seus preparativos de mais de um ano para o ataque terrorista. A falha da IC israelense em prever o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 pode ser atribuída, em grande parte, a uma concepção errônea sobre as intenções do grupo. A avaliação predominante na IC era de que o Hamas estava dissuadido e não tinha interesse em romper o status quo, buscando consolidar seu poder em Gaza e melhorar a situação econômica da população. Essa “cegueira” em relação às intenções do Hamas se deveu a uma série de fatores, como a permissão para que trabalhadores de Gaza entrassem em Israel para trabalhar, a entrada de ajuda humanitária em Gaza com a mediação do Catar (autorizada por Israel) e a relativa ausência de ataques de foguetes contra Israel nos anos anteriores ao ataque. Essa avaliação foi reforçada pela estratégia de “gestão
Trumponomics: O Protecionismo que Pode Salvar (ou Afundar) o Brasil

Donald Trump está de volta, e sua política econômica, chamada de “Trumponomics”, promete sacudir o mundo. Com tarifas contra importações, cortes de impostos e deportação em massa de imigrantes, os EUA querem fortalecer sua economia. Mas o que isso significa para o Brasil? A centro-direita vê oportunidades e riscos – e o Brasil precisa agir rápido. O que é Trumponomics? Trumponomics é sinônimo de protecionismo. Trump quer taxar produtos estrangeiros, especialmente da China, para proteger empregos americanos. Ao mesmo tempo, promete reduzir impostos e regulamentações, atraindo empresas. A deportação de imigrantes ilegais, porém, pode aumentar custos em setores como agricultura, elevando preços globais. O impacto no Brasil Para o Brasil, há chances e desafios. Uma guerra comercial entre EUA e China pode abrir espaço para exportações brasileiras, como soja e carne. Mas o protecionismo americano pode desacelerar o crescimento global, derrubando preços de commodities e desvalorizando o real. A centro-direita defende: o Brasil deve negociar acordos com os EUA e diversificar parceiros, reduzindo a dependência chinesa. Hora de agir O Brasil não pode ser espectador na era Trump. Fortalecer a indústria, investir em tecnologia e negociar acordos bilaterais são passos urgentes. Compartilhe esta análise e mostre que o Brasil precisa de estratégia para vencer!
Alemanha Vira à Direita: O Fim da Era Progressista na Europa?

A Europa está em transformação, e a Alemanha, coração econômico do continente, pode liderar essa mudança. Com eleições antecipadas marcadas para fevereiro de 2025, o bloco de centro-direita formado pela União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU) desponta como favorito, liderado por Friedrich Merz. A insatisfação com a economia estagnada e a imigração descontrolada está pavimentando o caminho para uma guinada conservadora. Por que a Alemanha está mudando? A coalizão social-democrata de Olaf Scholz enfrentou crises em 2024, desde inflação persistente até críticas à política de portas abertas para imigrantes. Os alemães estão frustrados com o aumento da criminalidade e a pressão sobre serviços públicos, temas que a centro-direita explora com promessas de segurança e rigor fiscal. A ascensão de partidos conservadores em Portugal, Áustria e França reforça essa tendência em toda a Europa. Impactos para o Brasil e o mundo Uma Alemanha mais conservadora pode endure+ reduzir subsídios a energias renováveis, priorizando a competitividade industrial. Isso afeta exportações brasileiras, como soja e minério, que dependem da demanda europeia. Além disso, o endurecimento das políticas migratórias pode inspirar debates no Brasil sobre segurança nas fronteiras, um tema quente para a centro-direita. O que vem por aí? A centro-direita brasileira celebra a virada alemã como um sinal de que valores como ordem, segurança e liberdade econômica estão ganhando força. Mas há riscos: uma Europa mais protecionista pode limitar o acesso do Brasil a mercados. É hora de o Brasil fortalecer sua posição global! Compartilhe esta notícia e junte-se à discussão: a guinada conservadora na Europa é o futuro? Deixe seu comentário e fique por dentro!