Apesar da escalada militar entre Irã e Israel nas últimas semanas, o grupo libanês Hezbollah permaneceu surpreendentemente inativo, sustentado por uma combinação de fatores domésticos, regionais e militares. Fontes dos Estados Unidos apontam que uma mistura de limitações internas e advertências externas resultou na decisão de evitar o envolvimento direto na guerra.
Hezbollah, fundado nos anos 1980 com apoio dos Guardas Revolucionários do Irã, consolidou-se como força militar e política dominante no Líbano, frequentemente descrita como um “Estado dentro do Estado”. No entanto, após o conflito prolongado com Israel em 2024, o grupo sofreu perdas severas, incluindo a destruição de infraestrutura, eliminação de líderes e enfraquecimento de comando.
Segundo um alto oficial norte-americano, o Hezbollah “recebeu ordens claras de Teerã para não entrar na briga, evitando uma resposta militar que aceleraria o risco de retaliação israelense e ameaçaria sua capacidade remanescente”. O discurso retórico em apoio ao Irã foi intenso, mas restrito a declarações públicas, sem ação militar real no sul do Líbano.
Israel bombardeou posições do Hezbollah
Mesmo com o cessar-fogo entre Israel e Hezbollah em vigor, o sul do Líbano continua sendo bombardeado pelas Forças de Defesa de Israel. No ataque mais recente realizado na manhã de hoje (27), as IDF visaram redes de túneis e infraestrutura do grupo no entorno da cidade de Nabatieh. Uma pessoa foi morta e 11 ficaram feridas após os ataques atingirem um edifício na cidade. Israel não divulgou se esse ataque visava algum alvo específico.
Internamente, a milícia enfrenta restrições significativas. O governo libanês, com apoio americano e francês, exige agora o monopólio do uso de armas dentro das fronteiras nacionais. O Exército do Líbano (LAF) removeu gradualmente armas e posições do Hezbollah do sul do país, com cerca de 80% das metas de desarmamento já alcançadas sob supervisão militar e inteligência israelense.
Hezbollah está enfraquecido
O apoio da própria base política e social do Hezbollah está enfraquecido. A devastação causada pelo conflito de 2024 aumentou a desilusão entre seus principais apoiadores xiitas, que agora exigem prioridade na reconstrução civil, não em novos confrontos militares. Lideranças políticas, como o presidente Joseph Aoun e o premiê Nawaf Salam, reforçam a necessidade de neutralidade para evitar uma queda ainda maior no Líbano, abalado por colapso estatal, economia em ruínas e crise humanitária.
Até o momento, a postura cautelosa do Hezbollah tem sido reforçada por coalizões internacionais focadas em limitar o envolvimento libanês no conflito. EUA e França encorajaram o grupo a permanecer à margem da escalada, oferecendo ao governo libanês apoio militar se ele assumisse a segurança interna.
A situação geopolítica atual coloca o Hezbollah em um ponto de inflexão. Embora mantenha um arsenal significativo de mísseis, inclusive de alcance médio e longo, e a capacidade de projetar poder, a destruição de armas e infraestrutura, a queda de líderes como Hassan Nasrallah e a imposição de limites domésticos tornaram seu retorno ao confronto arriscado.
Autopreservação
Após o ataque de Hamas a Israel em outubro de 2023, Hezbollah lançou uma segunda frente no Líbano, marcando um prolongado período de combates, destruição e mais de mil mortes. Contudo, ao longo do conflito, tornou-se evidente que o grupo estava fisicamente limitado, especialmente após a morte de lideranças-chave e a perda de uma quantidade substancial de seu arsenal.
Hoje, embora retórica, solidariedade simbólica e apoio diplomático ainda façam parte de sua estratégia, o Hezbollah optou por preservar sua capacidade, evitando a devastação de um novo confronto em guerra aberta. Essa postura reflete uma lição aprendida à força: depois de ter ficado quase irreconhecível, a organização prioriza sua sobrevivência em vez de impulsionar nova escalada.
Fontes: The National News, Oxford Analytica, ABC