Irã desafia o Ocidente e ameaça retomar programa nuclear sem supervisão

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O parlamento iraniano aprovou nesta quarta-feira (25) um projeto de lei que suspende a cooperação do país com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão da ONU responsável pela fiscalização nuclear. A decisão, tomada por unanimidade, ainda depende da aprovação do Conselho de Guardiães, entidade ligada ao Supremo Líder.

A medida prevê interromper inspeções, retirar câmeras de vigilância nos locais nucleares e suspender relatórios regulares à AIEA, até que seja garantida “a segurança das instalações nucleares iranianas“, conforme divulgado por fontes parlamentares.

O presidente do parlamento, Mohammad Baqer Qalibaf, acusou o órgão de ter comprometido sua credibilidade internacional ao não condenar os ataques israelenses e americanos contra os sítios nucleares de Natanz, Fordow e Isfahan.

Os ataques ocorreram nos últimos dias, com mísseis e bombas de precisão lançados por Israel, seguido por bombardeios dos EUA, que afirmaram ter “obliterado” as instalações. No entanto, os dados de inteligência sugerem que os danos teriam sido moderados, atrasando o programa nuclear apenas por alguns meses.

AIEA

Essa ação do Irã ocorre em meio a um cessar-fogo instável com Israel e à apreensão global provocada pelo episódio. A AIEA, por meio do diretor-geral Rafael Grossi, criticou o escopo reduzido de inspeções e alertou para riscos de proliferação nuclear sem monitoramento externo.

Grossi declarou que “é prioridade reintegrar inspetores nas instalações nucleares iranianas para avaliar os estoques de urânio enriquecido“, estimados em cerca de 400 kg com pureza de até 60%, próximo ao nível de armas atômicas.

Ele ressaltou que, embora o Irã afirme ter protegido materiais antes dos bombardeios, somente a inspeção presencial pode confirmar essa informação.

O Ministério das Relações Exteriores do Irã, por sua vez, alegou que o ambiente após os ataques é hostil e que ajustes “em seu posicionamento em relação ao regime de não-proliferação” serão necessários, mas que não foi definido em que sentido.

Especialistas em não proliferação alertam que a suspensão da cooperação ameaça desestabilizar o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), vigente desde 1970 e ratificado pelo Irã em 1970, mas fragilizado por esta decisão. O abandono dos protocolos compromete a capacidade de detectar eventuais desvios de material nuclear, levando a um cenário de incerteza e tensão global.

Reações internacionais foram rápidas: a União Europeia, Rússia, China e outros membros do Conselho de Segurança da ONU manifestaram preocupação, afirmando que a retirada da fiscalização representa um “sinal de alerta preocupante” e conclamam ambas as partes a retomar o diálogo.

Na OTAN, fontes indicaram que o cessar-fogo com Israel permanece tenso e que o Irã está sendo observado de perto pelos serviços de inteligência ocidentais. O secretário-geral, Mark Rutte, mencionou que o Irã não deve ser autorizado a desenvolver capacidade nuclear ofensiva — meta que os aliados ocidentais vêem como clara.

Internamente, o Irã reforçou o discurso patriótico. Houve gritos de “Morte à América” “Morte a Israel” no parlamento após a votação, segundo vídeos registrados no plenário. O resultado indicou que a meta é clara: avançar mais rápido no programa nuclear civil, sob proteção ampliada.

A AIEA, por sua vez, debate no momento se irá acionar o procedimento para restaurar sanções da ONU, que foram suspensas após o acordo de 2015 (JCPOA). O órgão já havia adotado uma resolução contra o Irã por descumprimento das obrigações há semanas.

Este giro marca um ponto crítico na crise nuclear iraniana. O Irã avança com seu programa com menos fiscalização externa, aumentando as tensões internacionais e colocando em xeque a arquitetura global de não proliferação.

O cenário permanece incerto, mas a lição é clara: a desconfiança mútua elevou o risco de descontrole nuclear, exigindo respostas diplomáticas urgentes — ou o mundo poderá enfrentar uma nova era de insegurança nuclear.

Fontes: TIME, Reuters e Investing

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