O encontro jurídico promovido em Portugal pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), intitulado informalmente de “Gilmarpalooza”, reunirá mais de 150 autoridades brasileiras, incluindo ministros do STF, parlamentares e dezenas de assessores. O evento, sediado em Lisboa nos dias 2, 3 e 4 de julho, ocorre anualmente e mistura debates jurídicos com articulações políticas e institucionais de alto nível. No entanto, a edição de 2025 chamou atenção não apenas pela quantidade de autoridades presentes, mas também pelo momento político delicado e pelo uso de recursos públicos em meio à contenção de gastos no Brasil.
A repercussão do evento tem sido intensa nas redes sociais e na imprensa. Parte da opinião pública questiona a real necessidade da presença de tantos representantes dos Três Poderes em um evento fora do país, especialmente diante das dificuldades orçamentárias enfrentadas por várias instituições no Brasil. Segundo a Folha de S.Paulo, os gastos com passagens, diárias e deslocamentos não foram esclarecidos de forma transparente por diversos órgãos envolvidos, e muitos dos participantes evitaram fornecer detalhes sobre os custos arcados pelos cofres públicos.
Entre os presentes estão os ministros do STF Flávio Dino, Alexandre de Moraes, André Mendonça e Luiz Carlos Barroso, o presidente da Câmara Hugo Motta, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, além de membros do TCU, do STJ e de outras esferas do Judiciário. A ausência de informações sobre os valores gastos por cada poder — Executivo, Legislativo e Judiciário — gerou críticas, inclusive de parlamentares da oposição, que cobraram maior transparência e responsabilização.
No exterior, o evento também gerou reações. O partido português Chega, de direita populista, anunciou que pretende investigar a influência e os efeitos do “Gilmarpalooza” em solo português. Segundo o jornal digital Poder360, o partido, que ganhou força nas últimas eleições, questiona se há interferência indevida de autoridades estrangeiras nos assuntos internos de Portugal e se os encontros em Lisboa podem representar um canal informal de influência brasileira na política e no Judiciário local.
O líder do Chega, André Ventura, afirmou que o partido vai solicitar informações formais ao governo português sobre os custos, apoios institucionais e natureza dos encontros jurídicos promovidos por Gilmar Mendes e outras figuras do Judiciário brasileiro em território português. Ventura argumenta que há “um rastro de relações que precisam ser escrutinadas, especialmente quando se fala em encontros recorrentes de autoridades estrangeiras com vínculos políticos e judiciais”.
Apesar das críticas, defensores do evento ressaltam que a conferência tem caráter acadêmico e é uma oportunidade legítima de estreitar laços jurídicos e institucionais entre Brasil e Portugal, promovendo o intercâmbio de ideias e o diálogo entre sistemas de justiça. Gilmar Mendes, que também é professor da Universidade de Lisboa, defende o evento como parte de sua contribuição ao debate jurídico internacional.
A polêmica, no entanto, está longe de se encerrar. No Brasil, parlamentares já articulam pedidos de informação formais aos tribunais e ministérios participantes do evento. Há também movimentações para convocar audiências públicas a fim de discutir o uso de recursos públicos em eventos internacionais de natureza não estritamente oficial. Já em Portugal, a pressão do Chega pode abrir uma frente política de investigações e tensionar as relações entre os dois países, ao menos no campo diplomático e institucional.
Gilmarpalooza em números:
- Ministros, secretários ou assessores de pelo menos 10 pastas do governo Lula
- Mais de 45 integrantes do governo federal
- 5 ministros do STF
- 18 ministros do STJ
- 5 ministros do TCU
- De 20 a 50 parlamentares
- 400 palestrantes
- 2.500 inscritos
- R$ 800 por ingresso (parlamentares e outras autoridades foram isentos, diz organização).
Fontes: Folha de São Paulo, Poder360