Em 13 de junho de 2025, o Oriente Médio foi sacudido por uma nova e grave escalada: Israel lançou ataques surpresa contra instalações militares e nucleares do Irã, desencadeando a primeira guerra direta entre os dois estados. Este conflito, que já entra em sua segunda semana, marca um ponto de inflexão na geopolítica regional, com implicações profundas para a segurança global e o equilíbrio de poder.
A análise de Zohar Palti, ex-chefe da Diretoria de Inteligência do Mossad, oferece uma perspectiva estratégica sobre o conflito, enquanto os desdobramentos recentes revelam a complexidade de um embate que combina avanços tecnológicos militares com tensões diplomáticas internacionais.
O início do conflito pegou o mundo de surpresa. Israel, que historicamente enfrentou grupos não estatais como Hamas e Hezbollah, agora se confronta com um adversário de escala estatal: o Irã, com seus 90 milhões de habitantes, um território 70 vezes maior que o de Israel e dois exércitos – as forças regulares e o poderoso Corpo de Guardas Revolucionários Islâmicos. Os ataques iniciais de Israel incluíram bombardeios a instalações nucleares, assassinatos de líderes militares e cientistas iranianos e a destruição de sistemas de defesa antiaérea.
O Irã retaliou com mísseis contra alvos militares e cidades israelenses, intensificando o confronto. Até o momento, centenas de vidas foram perdidas, com relatos de significativos danos materiais em ambos os lados.
Luz à complexidade do conflito
Zohar Palti, uma figura de peso no establishment de segurança israelense, trouxe luz à complexidade do conflito em uma entrevista recente. Com décadas de experiência em inteligência e defesa, ele destacou a façanha da Força Aérea Israelense, que, em apenas 36 a 48 horas, neutralizou as defesas aéreas iranianas e dominou os céus a 1.500 quilômetros de distância.
Essa capacidade, segundo Palti, superou até mesmo os cenários mais otimistas discutidos internamente em Israel. No entanto, ele alertou que o sucesso militar inicial não garante uma vitória estratégica. O Irã, com sua resiliência forjada por décadas de sanções e um programa nuclear de 40 anos, é um adversário persistente e capaz de sustentar um conflito prolongado.
Palti também enfatizou a necessidade de Israel definir claramente seus objetivos. Embora os ataques tenham demonstrado a capacidade de atingir alvos estratégicos, como as instalações nucleares de Natanz e Isfahan, avaliar o impacto real nesses programas levará tempo. Ele questionou se prolongar o conflito traria benefícios proporcionais aos custos e defendeu a coordenação com potências internacionais, como Estados Unidos, Alemanha, França e Reino Unido, para negociar um cessar-fogo. Para ele, o Irã também precisará aceitar condições para encerrar as hostilidades, o que torna o caminho diplomático tão desafiador quanto o militar.
Os desdobramentos recentes mostram que o conflito está longe de uma resolução. Israel continuou a atacar alvos nucleares e eliminou figuras-chave do comando militar iraniano, enquanto o Irã intensificou seus ataques com mísseis, atingindo até mesmo um hospital em Beersheba. O envolvimento de atores externos, como os Estados Unidos, que auxiliam Israel na defesa antimísseis, e os Houthis no Iêmen, que lançaram ataques contra Israel, sugere que o conflito pode se expandir. Tentativas diplomáticas, como encontros em Genebra, não conseguiram avançar, e a posição de líderes globais, incluindo o presidente dos EUA, indica que uma decisão sobre maior envolvimento pode demorar semanas.
Capacidades militares
Do ponto de vista tecnológico, o conflito expõe o estado da arte das capacidades militares. A precisão e o alcance das operações aéreas israelenses, combinados com inteligência avançada e logística de reabastecimento em voo, mostram como a tecnologia molda a guerra moderna.
Por outro lado, a capacidade do Irã de retaliar, mesmo sob pressão, reflete sua indústria militar autossuficiente, desenvolvida para resistir a sanções. Esses elementos sublinham um paradoxo: enquanto a superioridade tecnológica pode garantir vitórias táticas, a resiliência estratégica de um adversário como o Irã desafia soluções puramente militares.
Geopoliticamente, o conflito reacende debates sobre a proliferação nuclear. Israel vê o programa nuclear iraniano como uma ameaça existencial e busca seu desmantelamento completo, enquanto o Irã defende seu direito a um programa nuclear pacífico, rejeitando limitações sob coerção.
Esse impasse não apenas alimenta o confronto atual, mas também influencia políticas globais de não proliferação. Além disso, o envolvimento de potências regionais e globais sugere que o conflito pode redefinir alianças e equilíbrios de poder no Oriente Médio, com ramificações que vão desde o fornecimento de energia até a estabilidade de estados vizinhos.
Incerteza
O cenário atual é de incerteza. Enquanto Israel mantém a iniciativa militar, o custo humano e econômico do conflito cresce. No Irã, a destruição de infraestrutura e as perdas humanas alimentam a pressão interna, mas também reforçam a narrativa de resistência contra agressões externas. A ausência de um horizonte claro para o fim das hostilidades, combinada com a relutância de ambos os lados em ceder, sugere que o conflito pode se prolongar ou escalar ainda mais.
Este momento histórico exige uma reflexão cuidadosa sobre as dinâmicas de poder e tecnologia no Oriente Médio. A guerra Israel-Irã não é apenas um confronto entre dois estados, mas um teste para a capacidade da comunidade internacional de gerenciar crises que combinam rivalidades históricas, ambições nucleares e avanços militares. A análise de Palti serve como um lembrete de que, mesmo em meio a vitórias táticas impressionantes, a estratégia de longo prazo e a diplomacia serão decisivas para determinar o futuro da região.
À medida que o mundo acompanha os próximos passos, fica evidente que o conflito de 2025 não será resolvido apenas nos campos de batalha. Ele desafia líderes globais a encontrar um equilíbrio entre pressão militar, sanções econômicas e diálogo, em um esforço para evitar uma escalada que poderia desestabilizar não apenas o Oriente Médio, mas o sistema internacional como um todo. Por ora, o conflito segue como um lembrete da fragilidade da paz em uma região marcada por tensões profundas e da necessidade de abordagens que transcendam a força bruta para alcançar estabilidade duradoura.