Canadá cede à pressão de Trump e suspende taxação de serviços digitais

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O governo do Canadá anunciou neste domingo (29) a retirada de última hora do imposto sobre serviços digitais (Digital Services Tax – DST) que seria aplicado a empresas dos EUA, antes mesmo de sua entrada em vigor. O objetivo é destravar negociações comerciais estagnadas com os Estados Unidos e atender ao prazo estabelecido no recente encontro entre o premiê Mark Carney e o presidente Donald Trump, que prevê a conclusão de um novo acordo até 21 de julho.

O DST, aprovado em 2024 e retroativo a 2022, previa a cobrança de 3% sobre a receita no Canadá de grandes empresas de tecnologia, como a Amazon, Apple, Google, Meta e outras, com faturamento anual acima de US$ 20 milhões no país. A proposta, apresentada em 2020 para fechar brechas tributárias e pressionar por um acordo multilateral, caiu como uma bomba diplomática: Trump classificou a medida como “um ataque flagrante“, interrompeu as conversas comerciais e ameaçou impor novas tarifas sobre produtos canadenses.

Em reação, o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, saudou o revés canadense: “Obrigado, Canadá, por remover o imposto que poderia sufocar a inovação americana e comprometer qualquer acordo comercial“, declarou via X.

O anúncio foi feito horas antes de o imposto entrar em vigor. O ministro das Finanças canadense, François-Philippe Champagne, comprometeu-se a encaminhar uma legislação para revogar formalmente o Digital Services Tax Act em breve. A expectativa é que isso coloque o comércio bilateral nos trilhos e evite mais atritos com Washington.

O Canadá foi o maior comprador de produtos dos EUA em 2024 (US$ 349 bilhões) e o segundo maior destino para exportações americanas (US$ 413 bilhões). Analistas afirmam que a suspensão do DST foi essencial para restaurar a confiança e permitir a retomada das negociações comerciais nos moldes do USMCA (Estados Unidos‑México‑Canadá).

O mercado reagiu com otimismo. Nas bolsas asiáticas, os índices Nikkei (Japão) e Kospi (Coreia do Sul) registraram ganhos, à medida que as expectativas sobre o fortalecimento do comércio entre os EUA e o Canadá amenizavam o apetite por ativos de risco. Os futuros da Nasdaq e S&P subiram, enquanto o dólar cedia frente a outras moedas à medida que aumentava a possibilidade de um corte nas taxas de juros americanas.

Apesar do alívio, o governo de Ottawa reconhece que o DST fazia parte de uma estratégia global, e que o país continua empenhado em buscar uma abordagem multilateral para tributação digital. Porém, a prioridade do momento é “garantir um ambiente propício para as negociações bilaterais, que agora contam com um prazo definido”, reforçou Champagne em nota oficial.

A resposta dos EUA foi rápida: Trump confirmou que as conversações haviam sido retomadas e sinalizou que até mesmo novas tarifas poderiam ser evitadas, desde que haja progresso. O prazo final, 21 de julho, foi acordado no encontro dos líderes ocorrido durante a cúpula do G7, em junho.

O movimento também reverberou nos bastidores dos EUA: republicanos passaram a apoiar o plano após a retirada do imposto e o clima político tornou-se mais propício ao avanço de uma reforma comercial mais ampla, incluindo aspectos de segurança e cooperação econômica, conforme pauta emergente no norte do continente.

Entretanto, críticas surgem no Canadá. A Canadian Chamber of Commerce alertou que a desistência do imposto cancelou uma oportunidade de arrecadação e reduziu a pressão sobre a OCDE para propor padrões globais mais justos. Outros temem que o país continue vulnerável a pressões externas e dependa excessivamente do mercado americano.

À beira de um acordo que poderia fortalecer a cooperação econômica e reduzir tensões, Canadá e EUA entram agora na reta final de negociações com apostas elevadas: para Ottawa, equilibra-se entre proteger seus interesses fiscais; para Washington, restabelecer a confiança entre os vizinhos após meses de atrito.

Fonte: Reuters, Reuters, New York Post

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