Alemanha anuncia salto histórico nos gastos de defesa e infraestrutura para frear ameaça russa

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A Alemanha anunciou nesta terça-feira (24) um orçamento robusto — de €115,7 bilhões em investimentos para 2025, com previsão de alcançar €123,6 bilhões em 2026 — destinado a impulsionar a economia e reforçar a defesa nacional. O plano, aprovado pelo gabinete do chanceler Friedrich Merz e anunciado pelo ministro das Finanças Lars Klingbeil, representa uma guinada estratégica após dois anos de estagnação econômica.

O aspecto mais notável do orçamento é a elevação dos gastos militares para 3,5 % do Produto Interno Bruto até 2029, acelerando impulsos históricos no Arsenal da República. O orçamento militar passará de €95 bilhões em 2025 para cerca de €153 bilhões em 2029. A iniciativa busca cumprir futuras metas da OTAN, que planeja elevar o patamar mínimo de compensações militares para cerca de 5 % do PIB (3,5 % em Defesa convencional e 1,5 % em infraestrutura de uso civil e segurança cibernética).

Klingbeil defendeu a mudança como “uma virada de paradigma” — equivalente a assumir responsabilidade frente à deterioração global de segurança e pressão por parte dos EUA e da OTAN. Ele ressaltou que os recursos serão aplicados com rigor, priorizando eficiência e cooperação na aquisição de equipamentos junto a parceiros europeus.

Esse salto substancial só foi possível graças à flexibilização da “frenagem do endividamento” alemã, regra constitucional que previamente limitava o déficit público. A mudança, aprovada em março, permite empréstimos expressivos para despesas militares acima de 1% do PIB e para um fundo de €500 bilhões destinado à infraestrutura.

O endividamento adicional programado entre 2025 e 2029 chega a €847 bilhões — o que reflete a ampliação decisiva do escopo fiscal do Estado. A previsão é de que os juros decorrentes desses créditos avancem significativamente nos próximos anos, alcançando impacto fiscal expressivo, embora a equipe econômica confie que o investimento gerará retorno sustentável.

A decisão não se limita ao rearmamento. Um fundo de €500 bilhões em infraestrutura será empregado ao longo de 12 anos, voltado à modernização de rodovias, ferrovias, pontes, redes de energia e tecnologia — inclusive para proteção contra ameaças digitais. A medida tem como meta estimular o crescimento econômico, corrigir deficiências históricas e preparar o país para cenários de crise.

Na arena geopolítica, o direcionamento da Defesa também atende à urgência trazida pela guerra na Ucrânia e à instabilidade causada pela Rússia, bem como à crescente pressão dos EUA por parte do presidente Donald Trump, que pressiona os aliados da OTAN a concentrarem 5 % do PIB em gastos militares.

O pacote foi apresentado justamente antes da reunião da OTAN em Haia, onde líderes devem apoiar oficialmente a meta de 5% do PIB em defesa. A proposta pretende assegurar que os Estados Unidos não cancelem o apoio à articulação transatlântica, enquanto enfrentam custos geopolíticos, desde a guerra na Ucrânia até possíveis choques com o Irã.

O secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, enfatizou a necessidade de ação e saudou o empenho alemão. A Espanha abriu exceção, não se comprometendo com a meta, mas a maioria das nações se compromete a seguir a proposta.

Apesar do otimismo oficial, analistas apontam riscos: o uso maciço de crédito público pode elevar juros, agravar a dívida e reduzir espaço para políticas sociais e fiscais futuras. Além disso, a manutenção de crescimento após o impulso dependerá de reformas mais profundas, como estímulo à indústria, vantagem fiscal e aprimoramento institucional.

Para o economista Salomon Fiedler, do Berenberg Bank, investimentos e reformas devem ocorrer em paralelo: “Se não houver reformas significativas, a economia pode cair novamente depois do impulso“.

Com este orçamento ambicioso, a Alemanha tenta corrigir décadas de subinvestimento e responder a uma conjuntura internacional volátil. Resta ver se a estratégia será bem executada — e se os custos de endividamento não comprometerão o crescimento a longo prazo.

Fontes: New York Times, Politico, Reuters

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