Guerra comercial: veículos elétricos chineses querem dominar o mercado africano

Atingidas pelo recrudescimento do conflito comercial com EUA e Europa, empresas chinesas de veículos elétricos (EV) e híbridos olham com cada vez mais cobiça para o ainda inexplorado mercado africano. O continente abriga mais de 1 bilhão de habitantes, mas uma combinação de renda per capita baixa e protecionismo alto segue afugentando as companhias estrangeiras da região. Segundo Tony Liu, CEO da Chery South Africa, a África do Sul, por ser a maior economia do continente, funciona como uma verdadeira “porta de entrada” para o mercado automobilístico da região. “Enxergamos a África do Sul como um dos mais importantes mercados para nossa expansão global.” Tony Liu. O continente conta hoje com 14 marcas chinesas diferentes, entre elas as gigantes BYD e GWM. Outros nomes menores, como Changan, Leapmotor e Dayan, devem seguir o mesmo caminho em breve. O movimento é recente: metade das presentes iniciou suas operações em 2024. Os planos, porém, incluem não apenas expansão, mas também produção e montagem local, aproveitando incentivos governamentais. Conrad Groenewald, COO da GWM, disse que, até este momento, não fazia sentido mover a produção para a África, mas que as coisas têm mudado, o que pode motivar novos estudos de viabilidade. “Acredito que agora temos economias de escala”, comentou Conrad Groenewald. A tendência de buscar novos mercados é uma resposta chinesa ao aperto nas economias tradicionais, fruto tanto de um desaquecimento do mercado quanto de políticas comerciais adotadas. Os EUA, por exemplo, tarifam em 100% a entrada de veículos elétricos chineses, enquanto a Europa também os taxa de forma severa. O mercado automobilístico africano – produção inferior a 600 mil veículos por ano – é minúsculo quando comparado às demais praças, mas seu potencial de crescimento é significativo. Estudos de associações locais estimam que, se direcionados os incentivos corretos, as vendas podem escalar para até 4 milhões de carros por ano. Dificuldades regionais, como a falta de abastecimento elétrico confiável, têm reduzido a atratividade dos EVs até o momento na África. Por este motivo, os executivos estudam também estimular a produção e venda de veículos híbridos. Para Steve Cheng, gerente-geral da BYD na África do Sul, porém, os empecilhos não minam a estratégia. “Acredito que a África do Sul e o resto da África têm uma grande oportunidade de dar um salto enorme dos veículos tradicionais para os EVs. É um mercado enorme“. Fontes: reuters
Canadá cede à pressão de Trump e suspende taxação de serviços digitais

O governo do Canadá anunciou neste domingo (29) a retirada de última hora do imposto sobre serviços digitais (Digital Services Tax – DST) que seria aplicado a empresas dos EUA, antes mesmo de sua entrada em vigor. O objetivo é destravar negociações comerciais estagnadas com os Estados Unidos e atender ao prazo estabelecido no recente encontro entre o premiê Mark Carney e o presidente Donald Trump, que prevê a conclusão de um novo acordo até 21 de julho. O DST, aprovado em 2024 e retroativo a 2022, previa a cobrança de 3% sobre a receita no Canadá de grandes empresas de tecnologia, como a Amazon, Apple, Google, Meta e outras, com faturamento anual acima de US$ 20 milhões no país. A proposta, apresentada em 2020 para fechar brechas tributárias e pressionar por um acordo multilateral, caiu como uma bomba diplomática: Trump classificou a medida como “um ataque flagrante“, interrompeu as conversas comerciais e ameaçou impor novas tarifas sobre produtos canadenses. Em reação, o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, saudou o revés canadense: “Obrigado, Canadá, por remover o imposto que poderia sufocar a inovação americana e comprometer qualquer acordo comercial“, declarou via X. O anúncio foi feito horas antes de o imposto entrar em vigor. O ministro das Finanças canadense, François-Philippe Champagne, comprometeu-se a encaminhar uma legislação para revogar formalmente o Digital Services Tax Act em breve. A expectativa é que isso coloque o comércio bilateral nos trilhos e evite mais atritos com Washington. O Canadá foi o maior comprador de produtos dos EUA em 2024 (US$ 349 bilhões) e o segundo maior destino para exportações americanas (US$ 413 bilhões). Analistas afirmam que a suspensão do DST foi essencial para restaurar a confiança e permitir a retomada das negociações comerciais nos moldes do USMCA (Estados Unidos‑México‑Canadá). O mercado reagiu com otimismo. Nas bolsas asiáticas, os índices Nikkei (Japão) e Kospi (Coreia do Sul) registraram ganhos, à medida que as expectativas sobre o fortalecimento do comércio entre os EUA e o Canadá amenizavam o apetite por ativos de risco. Os futuros da Nasdaq e S&P subiram, enquanto o dólar cedia frente a outras moedas à medida que aumentava a possibilidade de um corte nas taxas de juros americanas. Apesar do alívio, o governo de Ottawa reconhece que o DST fazia parte de uma estratégia global, e que o país continua empenhado em buscar uma abordagem multilateral para tributação digital. Porém, a prioridade do momento é “garantir um ambiente propício para as negociações bilaterais, que agora contam com um prazo definido”, reforçou Champagne em nota oficial. A resposta dos EUA foi rápida: Trump confirmou que as conversações haviam sido retomadas e sinalizou que até mesmo novas tarifas poderiam ser evitadas, desde que haja progresso. O prazo final, 21 de julho, foi acordado no encontro dos líderes ocorrido durante a cúpula do G7, em junho. O movimento também reverberou nos bastidores dos EUA: republicanos passaram a apoiar o plano após a retirada do imposto e o clima político tornou-se mais propício ao avanço de uma reforma comercial mais ampla, incluindo aspectos de segurança e cooperação econômica, conforme pauta emergente no norte do continente. Entretanto, críticas surgem no Canadá. A Canadian Chamber of Commerce alertou que a desistência do imposto cancelou uma oportunidade de arrecadação e reduziu a pressão sobre a OCDE para propor padrões globais mais justos. Outros temem que o país continue vulnerável a pressões externas e dependa excessivamente do mercado americano. À beira de um acordo que poderia fortalecer a cooperação econômica e reduzir tensões, Canadá e EUA entram agora na reta final de negociações com apostas elevadas: para Ottawa, equilibra-se entre proteger seus interesses fiscais; para Washington, restabelecer a confiança entre os vizinhos após meses de atrito. Fonte: Reuters, Reuters, New York Post
Novo governo sírio ligado a massacres contra alauítas

Após a queda de Bashar al‑Assad, o novo governo liderado por Ahmed al‑Sharaa assumiu uma postura de unificação nacional. No entanto, em março deste ano, a aliança entre ex-militares, milícias sunitas e grupos estrangeiros desencadeou uma onda sistemática de violência sectária contra a comunidade alauíta – historicamente vinculada ao regime anterior. Isso resultou em pelo menos 1.479 mortos em cerca de 40 locais, de acordo com levantamento da Reuters. Massacres Os massacres ocorreram entre 7 e 9 de março nas regiões costeiras de Latakia, Tartus e Hama, após um levante liderado por remanescentes pró‑Assad que deixou 200 agentes do governo mortos. A violência, segundo fontes oficializadas, foi uma retaliação brutal aos alauítas, com relatos de execuções sumárias, mutilações e pilhagens. Sobreviventes descrevem cenas de ataques realizados por organizações extremistas e milícias apoiadas pela Turquia, como a “Sultan Suleiman Shah Brigade” e a “Hamza Division“. Através de análises de vídeos postados pelos membros das brigadas na internet, foi possível confirmar a presença deles nos locais onde os assassinatos ocorreram. A investigação da Reuters identifica cinco grupos principais como responsáveis: unidades do HTS (antiga al‑Qaeda) – incluindo a “Unit 400” e a “Othman Brigade” –, milícias turcas, facções sunitas locais, combatentes estrangeiros (uzbeques, chechenos, turquistanos) e civis armados sunitas. Todos colaboraram em atrocidades contra civis. O total de vítimas varia conforme diferentes fontes: a Reuters confirma 1.479 mortos; a ONU e outros grupos como o SOHR e o SNHR documentaram entre 1.084 e 1.614 vítimas — a maioria civis desarmados e ex‑combatentes do antigo governo. Comissões de investigação Em resposta, o governo interino decretou a formação de comissões de investigação, prometendo responsabilização. “Ninguém está acima da lei“, declarou o porta-voz da comissão, Yasser Farhan. No entanto, até o momento, nenhuma punição concreta foi aplicada, nem contra violentos militantes nem contra lideranças das milícias envolvidas. Os ataques também suscitaram temor intergeracional. A ONU e comissões independentes relataram desaparecimentos de mulheres alauítas — 33 casos registrados apenas em junho — com sequestros e exigências de resgate, causando pânico na comunidade. Para a comunidade alauíta, eventos como o massacre em Arza e Baniyas, que registraram trezentas mortes, abriram feridas históricas. Os deslocados internos cruzaram para o Líbano, em busca de segurança, enquanto muitos permanecem escondidos nas comunidades vizinhas. A Comissão da ONU para a Síria, representada por Paulo Pinheiro, definiu os ataques como “extremamente perturbadores” e exigiu medidas imediatas de proteção às minorias religiosas, além de investigação aprofundada. Especialistas alertam que a inclusão de facções heterogêneas no novo exército contribuiu para a descoordenada implantação de forças no litoral, o que facilitou execuções e o recrutamento de brigadas milicianas com histórico sectário. A dependência desses grupos fragiliza o Estado, criando zonas de impunidade e ameaçando a unidade nacional. A violência desencadeada expõe a fragilidade da reconciliação em uma Síria fragmentada — minorias como os alauítas ainda vivem sob medo constante, com dignidade e futuro em jogo. O governo al‑Sharaa enfrenta agora a difícil missão de reconciliação sectária, probidade e justiça, antes que a democracia pretendida dê espaço ao retorno silencioso da estrutura autoritária que promete combater. Fontes: Reuters, Reuters, Times of Israel
The Economist: Lula sem aliados fortes no exterior e com rejeição em casa

No último domingo (29), a famosa revista britânica “The Economist”, que possui considerável visibilidade internacional, publicou um editorial com foco no presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e suas atuações. O artigo começa citando que o presidente Lula vive um momento delicado, tentando recuperar o protagonismo internacional, porém o que se observa é que o mesmo está cada vez mais isolado — tanto no exterior quanto dentro do próprio país. Comenta que o Brasil se posicionou contra os EUA após ataques ao Irã, rompendo com a linha diplomática de outras democracias ocidentais. O que reforça a imagem de que o Brasil, ao se alinhar a regimes como Irã, Rússia e China dentro dos BRICS, está se afastando do Ocidente. Em seguida, diz que Lula tenta se desvencilhar promovendo temas menos polêmicos na cúpula dos BRICS e evitando bater de frente com os americanos, especialmente com o presidente Trump, com quem nem sequer se encontrou. Enquanto isso, aproxima-se de Xi Jinping e busca expandir mercados na Europa e na Ásia. Mas os voos diplomáticos não têm rendido frutos sólidos: nem Putin o levou a sério quando ele se ofereceu como mediador da guerra na Ucrânia. Reforça que, na vizinhança — América Latina — a situação também é tensa. Lula não fala com o presidente da Argentina, se isolou após apoiar Maduro e ignora a tragédia no Haiti. O editorial afirma que seu papel de liderança na América Latina é “despreparado ou incapaz“. O artigo cita que, no front interno, o cenário é igualmente turbulento. Com popularidade em queda (apenas 28% aprovam seu governo), Lula enfrenta um Congresso que já começa a desafiá-lo abertamente, como no caso da rejeição de seu decreto de novos impostos — algo inédito em mais de três décadas — e que, enquanto isso, a direita se reorganiza. Mostra que o Brasil possui um déficit bilionário na balança comercial com os EUA, de cerca de $30 bilhões anuais — algo que agrada Trump. Cita que o Brasil parece hoje um ator coadjuvante, se mostrando “relativamente distante e inerte geopoliticamente“. Finaliza dizendo que Lula talvez precise descer do palco internacional e voltar os olhos para os problemas do próprio quintal.
Janja e Moraes dividem carona em voo da FAB para São Paulo

A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes compartilharam um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) no dia 13 de junho, de Brasília para São Paulo. O deslocamento foi requisitado pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. Segundo registros da Aeronáutica, o avião decolou da Base Aérea de Brasília às 9h15 e pousou no Aeroporto de Congonhas às 10h50, com 12 passageiros a bordo. Além de Moraes e Janja, embarcaram também a advogada Viviane Barci, esposa de Moraes, e seguranças. A assessoria da primeira-dama confirmou que ela usou a carona para realizar uma consulta ginecológica em São Paulo, informando que não houve custos adicionais à União, já que o voo já estava autorizado. Imagens divulgadas pelo Metrópoles mostram Janja, Moraes e Lewandowski desembarcando na área restrita do aeroporto. O uso de caronas em aeronaves da FAB não é ilegal: um decreto autoriza que vagas sobrando possam ser ocupadas por outros passageiros. Ainda assim, o caso chamou atenção porque a FAB e o Ministério da Justiça não divulgaram previamente a lista de passageiros, e as assessorias do STF e do Ministério da Justiça não comentaram oficialmente o episódio. Diante de críticas e ameaças, Moraes tem priorizado voar em aeronaves da FAB por razões de segurança, recorrendo ao Ministério da Defesa quando não há voos disponíveis. Fonte: revistaoeste.com e Metrópoles
Políticas de Trump ameaçam segurança alimentar dos EUA

O arrocho migratório implementado por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, vem causando severos impactos na agricultura americana. Em algumas regiões da Califórnia, reportou a Reuters, mais da metade dos trabalhadores do setor já não comparece mais ao trabalho com medo das batidas do ICE, o Serviço de Imigração e Controle de Alfândega dos Estados Unidos. “Se eles forem ao trabalho, não sabem se verão suas famílias novamente“, afirmou um imigrante. As preocupações são ecoadas também por empresários do setor. “Se 70% da sua força de trabalho não aparece para trabalhar, 70% da sua plantação não vai ser colhida, e vai acabar estragando“, disse uma agricultora do condado de Ventura, comentando que “a maioria dos americanos não tem interesse nesse tipo de trabalho“, ela disse temer que muitos agricultores não consigam fechar as contas e quebrem. “É impossível tocar um negócio quando seus trabalhadores estão nesse nível de trauma“, comentou Rebbeca Shi, CEO da American Business Immigration Coaliton. A situação se repete pela Califórnia e mesmo em outros estados, com gerentes e empresários reportando casos em que equipes de 300 pessoas tentam dar conta do serviço com apenas 80 trabalhadores. Parcela significativa – próxima a 50% – dos trabalhadores rurais nos EUA é composta por imigrantes ilegais, e retirá-los do trabalho teria, segundo economistas e pesquisadores, efeitos disruptivos sobre as cadeias de suprimento e a segurança alimentar dos americanos. “Quando há uma investida do ICE, ela atrasa a produção, aumenta os custos e dificulta o planejamento“, lamentou Patrick Murphy, executivo do setor na Flórida. “Sequer sabemos como serão as regras no mês que vem.” O temor das operações do controle de fronteiras impacta até mesmo imigrantes legais. “Ninguém se sente seguro quando escuta a palavra ‘ICE’, nem mesmo aqueles com a documentação em dia“. Em post recente em sua rede social, Trump comentou a questão e admitiu preocupação com o impacto que as ações do ICE podem gerar. “Estão levando trabalhadores muito bons e muito antigos. Eles não são cidadãos, mas são ótimos“. O presidente prometeu mudanças para remediar a situação, mas nenhuma medida foi tomada até este momento. Fonte: reuters, abcnews
“Não é da sua conta”: do uso de jato ao assédio, para o STF, tudo deve continuar escondido de quem banca a festa

“Não é da sua conta”: do uso de jatinhos às denúncias de assédio sexual e até ao algoritmo que distribui processos — para o STF, tudo deve continuar escondido de quem banca a festa. Há uma expressão que resume como o Supremo Tribunal Federal prefere lidar com tudo o que, em qualquer democracia, deveria ser público: “Não é da sua conta!” Vale para o algoritmo que escolhe qual ministro vai relatar qual processo. Vale para os voos em jatinhos da Força Aérea Brasileira, que viraram transporte quase exclusivo de autoridades, inclusive ministros do Supremo. Quem paga o combustível, a tripulação e as taxas aeroportuárias? Você. Quem está dentro do avião? Não é da sua conta. Vale até para saber como e com quem o Supremo gasta em diárias, passagens, hotéis e mordomias pelo mundo afora. Dados que, em qualquer lugar sério, estariam a um clique no Portal da Transparência — mas que no STF somem do mapa por “inconsistências técnicas” sempre que alguém resolve perguntar demais. E, como se não bastasse, o “não é da sua conta” agora também cobre denúncias de assédio sexual e moral dentro do tribunal. São dezenas de casos nos últimos anos, processos concluídos que, pela lei, deveriam ser públicos — ainda que com nomes ocultos para proteger vítimas e acusados. Mas no Supremo, até isso precisa ficar trancado a sete chaves. A lógica parece sempre a mesma: quanto mais grave o tema, maior o sigilo. E quanto mais dinheiro público envolvido, menos a população tem direito de saber. Este texto é sobre isso: sobre algoritmos que ninguém vê, sobre mordomias que ninguém fiscaliza, sobre vídeos que ninguém pode assistir e sobre denúncias que ninguém pode ler. Sobre um Supremo que adora repetir ao cidadão comum — que banca toda essa estrutura — a mesma frase, seja qual for a pergunta: “Não é da sua conta!” Sistema de distribuição de processos, o famoso algoritmo do STF O primeiro passo da tramitação de um processo dentro do Supremo é a escolha da relatoria. Com poderes quase imperiais no âmbito processual, um ministro-relator pode fazer muita coisa, inclusive nada. É comum que processos inteiros tramitem do início ao fim sem saírem do gabinete do relator para apreciação dos seus colegas de tribunal. É daí a importância de a distribuição das relatorias ser feita por sorteio. É uma camada de segurança para o cidadão. Por ser imparcial e aleatório, o sorteio evitaria a manipulação na escolha dos relatores das ações. Como quase tudo envolve o STF, apesar de importante e essencial para a Justiça, o “algoritmo” é uma caixa-preta. O sistema parece levantar dúvidas até entre os membros da Corte. Quando assumiu a presidência do tribunal, Cármen Lúcia prometeu a realização de uma auditoria externa no sistema. A promessa nunca foi cumprida, mas, durante a crise instaurada após a morte de Teori Zavascki, então relator da Lava Jato, Cármen fez questão de acompanhar a inserção dos dados no sistema de sorteio, que escolheria Edson Fachin como novo relator dos processos. De fato, a distribuição dos processos costumava ser alvo de curiosidade para a esquerda brasileira. Em 2017, o insuspeito The Intercept Brasil ironizava a coincidência produzida pelo “algoritmo”: por pura sorte, os inquéritos contra os tucanos Aloysio Nunes, José Serra e Aécio Neves pararam no gabinete de Gilmar Mendes. As mordomias bancadas com dinheiro público Bancar uma vida luxuosa para autoridades públicas não é uma obrigação de um povo, mas uma escolha. Em países como a Suécia, por exemplo, os ministros da Suprema Corte ganham o equivalente a cerca de R$ 25 mil líquidos, e um deles manifestou indignação ao ser perguntado por uma reportagem da BBC se suas refeições eram pagas com dinheiro público (“Não almoço à custa do dinheiro do contribuinte”, respondeu o juiz Göran Lambertz). Singapura e os Emirados Árabes Unidos, por outro lado, notoriamente remuneram seus funcionários públicos com salários acima do mercado. Posições em cargos de liderança são equiparadas às de executivos de multinacionais. É uma forma de atrair os melhores dos melhores para essas funções. E, dependendo dos resultados, eles podem até receber bônus no final do ano! O que há em comum tanto na Suécia quanto em Singapura é que, luxuoso ou não, o gasto público das cortes é transparente. Bem diferente do que ocorre no Brasil. Por aqui, a Força Aérea Brasileira foi reduzida a um serviço de táxi aéreo privativo para autoridades, inclusive os ministros do Supremo. Mas, apesar de os brasileiros bancarem a conta que paga tripulação, combustível, manutenção e despesas aeroportuárias, para o Supremo não é um direito do cidadão saber quem é transportado nesses voos. O segredo nas despesas não fica restrito aos voos em jatinhos dos ministros. Apesar de estarmos indo para o sétimo mês de 2025, o Portal da Transparência do STF não informa os gastos com diárias nacionais e internacionais para este ano. Com as passagens, a opacidade é ainda pior: não há atualizações desde 2023. No Portal Poder360, os repórteres Tiago Mali e Letícia Pille mostraram que a opção pelo segredo da boa vida bancada com dinheiro público ocorre há mais de dez anos: Vídeo do Aeroporto de Roma Aeroportos e viagens parecem realmente ser um centro de confusões e segredos para a Corte. No famoso incidente do Aeroporto de Roma, Alexandre de Moraes alegou que ele e seu filho haviam sido agredidos. Moraes por palavras; já o seu filho teria levado um tapa do agressor. Na época, o presidente Lula chamou os suspeitos de agredir o ministro de “animais selvagens“. Por meses, a imprensa brasileira noticiou que a confusão havia sido filmada e as imagens confirmavam a versão de Moraes. Em julho de 2023, a analista da GloboNews Eliane Cantanhêde foi taxativa: “O vídeo do aeroporto de Roma confirma a versão de Alexandre de Moraes à Polícia Federal: o empresário Roberto Mantovani atacou o ministro do STF, sua mulher e filho, com insultos e grosserias, não apenas uma, mas duas vezes.“ Em setembro do mesmo ano, a CNN repetia: “Imagens desmentem
Mais um escândalo no INSS: fraude bilionária no seguro-defeso

O seguro-defeso, benefício importante para pescadores artesanais, está sofrendo fraudes em larga escala, especialmente em cidades do Pará e Maranhão, com cadastros inflados e desvios bilionários. O governo já anunciou medidas para minimizar as fraudes, investigações ainda estão em curso. Pará Os dados são alarmantes, em Mocajuba, no Pará, 14,7 mil pessoas receberam o seguro-defeso em 2024. O problema é que, segundo os dados do IBGE, há 15,3 mil habitantes no município, sendo 6.300 fazendeiros, 1.800 funcionários da prefeitura e outros 716 servidores municipais. Ou seja, não é possível que haja tantos pescadores artesanais na cidade. O que evidencia a existência de cadastros fantasmas irregulares. Outras cidades do norte seguem a mesma discrepância, como São Sebastião da Boa Vista, Ponta de Pedras e Cametá, também no Pará. Maranhão E os municípios de Boa Vista do Gurupi e Cedral, ambos no Maranhão. O número de beneficiários do seguro-defeso saltou de 1 milhão em 2022 para 1,7 milhão em maio de 2025. Um acréscimo de mais de 500 mil cadastros em menos de um ano. Somente em 2024, o governo dispendeu R$ 6,36 bilhões, com o benefício. Fraudes e inconsistências Como mencionado acima, municípios no Pará e Maranhão apresentam uma proporção de pescadores cadastrados incompatível com os dados populacionais. Outra evidência é que, no Maranhão há apenas 621 embarcações cadastras para centenas de milhares de pescadores inscritos. A suspeita é que entidades intermediárias, como colônias e federações, estariam atuando na fraude dos registros e retendo 50% dos benefícios, segundo a Polícia Federal. Não é a 1ª vez que o esquema fraudulento exposto ocorre. Em 2015, a Operação “Enredados” deflagrou um esquema semelhante tendo como resultado a redução de 45% no número de beneficiários em 2016. Medidas do governo Mediante às denúncias, o governo anunciou em janeiro que os beneficiários só receberão o benefício através de biometria cadastrada e validada. A medida foi formalizada por meio de decreto na última quarta-feira (25). Além de uma medida provisória que obriga a homologação dos beneficiários pelas prefeituras e o cruzamento de dados anunciado pelo Ministério da Pesca. O TCU já está realizando auditorias em pagamentos suspeitos. Fontes: UOL, Brasil247 e Jornal da Band
Parricídio choca Pernambuco: filha planeja execução do pai por R$ 2 milhões

Uma jovem de 19 anos foi presa após confessar à Polícia Civil de Pernambuco que mandou matar o próprio pai para ficar com uma herança estimada em R$ 2 milhões. O crime ocorreu na noite de 20 de junho, no bairro Enseada dos Corais, em Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife. A vítima, Ayres Botrel, de 60 anos, era caminhoneiro e foi assassinado a tiros enquanto dormia em casa. A filha dele, Amanda Chagas Botrel, foi presa seis dias depois, na quinta-feira (26), após cair em contradições durante os depoimentos. Inicialmente, Amanda disse à polícia que homens armados haviam invadido a casa, a mandado ficar calada e executado o pai. Mas as câmeras de segurança mostraram apenas o carro dela entrando e saindo do local na noite do crime, sem sinal de outros suspeitos. Confrontada com as imagens, Amanda confessou ter planejado o assassinato, levando os criminosos até a residência e facilitando a entrada deles. De acordo com a delegada Myrthor Freitas, o crime teria motivação financeira. Ayres Botrel era dono de um caminhão, imóveis e outros bens que poderiam somar cerca de R$ 2 milhões, além de já ter colocado um duplex em nome da filha. Segundo a polícia, Amanda mantinha boa relação com os pais e não passava necessidade, estudava em faculdade particular e morava com a família. Mesmo assim, teria decidido antecipar a herança. Outro ponto suspeito foi o tempo que ela demorou para avisar a mãe: cerca de 15 a 20 minutos depois dos tiros. Após audiência de custódia, Amanda foi encaminhada para a Colônia Penal Feminina do Recife, no bairro da Iputinga, onde responderá por homicídio qualificado. O delegado Rodrigo Belo, da 14ª Delegacia de Homicídios, afirmou que a jovem demonstrou frieza ao confessar o crime e não reagiu nem mesmo ao ver a mãe chorando. A investigação continua para identificar os executores do assassinato e eventuais outros envolvidos. Amanda, até o momento, é apontada como a autora intelectual do crime. Fonte: Metrópoles