Rússia abate F-16 e piloto morre na queda

Na madrugada de 29 de junho, a Ucrânia enfrentou o maior bombardeio aéreo desde o início da invasão russa, quando Moscou lançou uma ofensiva massiva composta por 477 drones kamikaze Shahed e 60 mísseis de cruzeiro, balísticos e hipersônicos. O ataque atingiu diversos centros urbanos ucranianos — incluindo Kyiv, Lviv, Cherkasy, Kherson e Ivano‑Frankivsk — deixando pelo menos 12 civis feridos e causando danos a edificações residenciais e infraestrutura. No entanto, foi durante essa ofensiva que se registrou uma tragédia para as Forças Aéreas ucranianas: o piloto de F‑16 Maksym Ustymenko, tenente‑coronel de 32 anos, foi morto após abater sete alvos aéreos — uma combinação de drones e mísseis — com seu jato, até seu avião ser atingido enquanto realizava a sétima interceptação. Segundo informações do alto comando da Força Aérea ucraniana, Ustymenko manobrou a aeronave para longe de áreas povoadas, mas, sem tempo hábil para ejetar, morreu quando o F‑16 caiu. Em sua rede social, o presidente Volodymyr Zelensky homenageou-o in memoriam com o título de “Herói da Ucrânia”, elogiando sua coragem e destacando a gravidade do ataque russo: “Ele morreu defendendo nossos céus e nosso povo… É doloroso perder alguém como ele”, disse Zelensky. Dados militares detalham que, durante o ataque russo, ao menos 211 drones e 38 mísseis foram interceptados por sistemas convencionais, enquanto outros 225 drones foram neutralizados por contramedidas eletrônicas — ou simplesmente eram dispositivos sem carga explosiva. O ataque brutal também derrubou uma carga significativa da capacidade aérea ucraniana, que agora contabiliza três F‑16 já perdidos desde que os primeiros caças norte-americanos foram entregues no verão de 2024. A Ucrânia não divulga qual é o tamanho da sua frota de F-16. Embora o F‑16 seja eficaz em combates aéreos e bombardeios contra alvos terrestres, especialistas como Roman Svitan observam que a aeronave não foi projetada para enfrentar enxurradas de drones baratos — uma estratégia que tem desgastado os estoques de mísseis ainda limitados da Ucrânia. A economia de guerra virou uma corrida contra o tempo. O presidente Zelensky aproveitou para reforçar seu apelo à OTAN e especialmente aos EUA para o envio imediato de sistemas avançados de defesa aérea, como baterias Patriot.” Isso protegerá vidas”, escreveu ele, destacando que a Ucrânia está pronta para comprá-los. A Rússia tem aumentado a intensidade dos ataques, registrando na última semana mais de 1.270 drones e 1.100 bombas planadoras foram lançadas sobre o território ucraniano. A dimensão da ofensiva representa uma estratégia multifacetada: dispersar defesas, gerar pânico e testar novas tecnologias como mísseis Kinzhal e drones kamikaze integrados via comando por satélite. A perda de Ustymenko reforça a vulnerabilidade dos F‑16 e a urgência da Ucrânia em receber reforços, tanto em equipamentos quanto em munições. Zelensky alerta ainda que a Rússia está planejando uma nova ofensiva para o verão de 2025, inclusive com uma informação recente divulgada pela inteligência sul-coreana de que a Coreia do Norte estaria pronta para enviar milhares de novos soldados em apoio a Putin. Fontes: Kyiv Independent, Reuters, Financial Times
PCC no coração das finanças: mercado mapeia o risco do crime organizado

O avanço do Primeiro Comando da Capital (PCC) sobre setores da economia formal começou a entrar no radar de fundos de investimento, bancos e consultorias que atuam na Faria Lima, principal polo financeiro do Brasil. Gestoras de patrimônio e analistas de risco passaram a incluir, em relatórios e estudos sobre projetos na região Sudeste, indicadores de influência do crime organizado sobre cadeias produtivas, comércio e até operações logísticas. Esse movimento é inédito em termos de metodologia de avaliação de risco no mercado financeiro brasileiro. Tradicionalmente, variáveis como estabilidade política, segurança jurídica, inflação e câmbio dominavam o cálculo de cenários de investimento. No entanto, episódios recentes envolvendo ações violentas, interceptações de cargas e denúncias de extorsão e lavagem de dinheiro têm pressionado empresas a revisitar seus modelos de compliance e as projeções sobre retorno de ativos. As preocupações se intensificaram após investigações do Ministério Público e operações da Polícia Federal revelarem conexões entre facções criminosas e negócios supostamente legais, como transportadoras, redes varejistas, construtoras e empresas de logística portuária. O PCC, em particular, é apontado por autoridades como responsável por movimentar recursos bilionários por meio de atividades ilícitas e por expandir sua influência em cidades estratégicas próximas ao Porto de Santos, a principal porta de entrada e saída do comércio exterior brasileiro. Grupos de crime organizado, como PCC e CV, expandiram seus métodos de atuação após a pandemia de COVID-19. Informações apontam que os grupos se infiltraram nos ramos imobiliário, de transporte público, clínicas odontológicas, e também no refino e venda de combustíveis, por meio do contrabando de matérias-primas. Consultorias que assessoram investidores estrangeiros relatam que fundos internacionais, sobretudo norte-americanos e europeus, começaram a incluir perguntas específicas sobre segurança e risco criminal em suas diligências antes de aprovar aportes em setores como agronegócio, transporte de alto valor e infraestrutura. Esse tipo de risco, há poucos anos restrito a avaliações qualitativas de reputação, hoje influencia decisões sobre alocação de capital e pode até aumentar o custo do dinheiro captado por empresas brasileiras. Especialistas ressaltam que a percepção do crime organizado como ameaça ao ambiente de negócios não é nova, mas se tornou mais tangível com os relatórios oficiais que apontam vínculos entre facções e empresas de fachada. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o PCC expandiu sua atuação em pelo menos 22 estados e já exerce influência direta sobre cadeias logísticas fundamentais para exportação de commodities. O tema também tem impacto político. Governadores e prefeitos da região Sudeste vêm sendo pressionados a demonstrar capacidade de conter o avanço das facções. Em São Paulo, maior base de operações do PCC, empresas de transporte e logística têm reportado aumento nos custos com escolta armada e seguros. A insegurança afeta o valor de ativos e amplia a percepção de risco Brasil. Analistas que acompanham fundos de private equity e de crédito privado afirmam que, além de prejuízos diretos com roubo de cargas e ameaças, há preocupação com a infiltração de recursos ilícitos no sistema financeiro. A possibilidade de sanções e danos reputacionais faz com que gestoras e bancos passem a exigir provas mais robustas de controles internos e relatórios de compliance antes de liberar financiamentos. Enquanto isso, representantes do mercado alertam que o crescimento da economia paralela alimentada pelo crime organizado prejudica a competitividade do setor produtivo, distorce concorrência e compromete o ambiente de negócios no médio e longo prazo. Para conter essa tendência, advogados especializados em lavagem de dinheiro defendem que a fiscalização de transações suspeitas seja aprimorada e que as agências reguladoras atuem em parceria com autoridades judiciais. O governo federal ainda não apresentou uma estratégia articulada para lidar com o impacto econômico da atuação do PCC, mas reconhece que a dimensão do problema requer cooperação internacional e medidas que ultrapassem o âmbito exclusivamente policial. Fonte: Folha de São Paulo
Fome e desespero em Gaza: Israel endurece bloqueios à ajuda humanitária

Na última semana, um grupo de caminhões carregados com alimentos e suprimentos médicos entrou em Gaza, levando um vislumbre de esperança aos moradores do norte devastado pelo conflito – mas a alegria foi breve. Em poucos dias, Israel interrompeu novas entregas e fechou a principal rota de acesso, citando suspeitas de que o Hamas estaria desviando parte da ajuda humanitária. Entretanto, líderes tribais locais afirmam que foram eles, e não o grupo militante, que garantiram a segurança das cargas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) relatou que a última remessa trouxe suprimentos médicos vitais — incluindo bolsas de sangue e plasma — a primeira vez desde março, através do ponto de passagem de Kerem Abu Salem, no sul de Gaza. Já no norte, dezenas de caminhões entraram em uma operação independente organizada por clãs palestinos, resultando nas primeiras distribuições em quatro meses em locais como Jabalia. Mesmo diante do breve alívio, o fechamento da entrada de ajuda no norte intensificou os alertas da ONU sobre risco iminente de fome e colapso das condições de sobrevivência nos territórios sob bloqueio israelense. Dados da ONU indicam que apenas quatro centros de apoio estão operando, com uma queda drástica no fornecimento diário de refeições — em média, apenas 300 mil ao dia – diante de uma população estimada em 2,1 milhões. Há relatos de violência durante tentativas de coleta de alimentos: 23 palestinos foram mortos apenas no sul ao tentarem acessar ajuda nos pontos operados pelo Gaza Humanitarian Foundation (GHF), respaldado pelos EUA e Israel. Graves denúncias também apontam para mortes causadas por tiros, conforme informado por jornalistas e ONGs. O secretário-geral da ONU, António Guterres, criticou com severidade o modelo de distribuição conduzido pelos EUA, respaldado pelo GHF, classificando-o como “inseguro por excelência” e diretamente responsável por mortes de civis. Guterres exigiu uma revisão imediata do modelo e a abertura irrestrita de fronteiras humanitárias . A comunidade internacional, incluindo União Europeia, Reino Unido, França e Canadá, intensificou a pressão sobre Israel. A UE considera medidas punitivas caso não seja retomada com urgência a ajuda vital. Josep Borrell, ex-alto diplomata da UE, pediu ação mais firme do bloco, argumentando que a instituição não pode permanecer inerte diante da crise. Organizações humanitárias, como a International Rescue Committee (IRC) alertam que a escassez de acesso a alimentos, combustível e medicamentos ameaça causar desnutrição em massa, sobretudo entre crianças — uma geração pode estar à beira de um colapso físico e psicológico. Segundo o IRC, 1,9 milhão de palestinos já estão deslocados, e as remessas de comida foram reduzidas em mais de 70% desde abril. As consequências são profundas: doenças, colapso da rede médica e condições insalubres agravam a situação humanitária. Apesar das tensões, Israel mantém que o GHF é responsável por garantir entrega segura das cargas, desde que haja garantias de que o Hamas não interfere no processo. Já o clã palestino Mukhtar Salman Al Mughani negou qualquer envolvimento do grupo, afirmando que “os clãs garantem a segurança”. A realidade complexa de Gaza evidencia que, enquanto pequenos sinais de alívio surgem, a ajuda é frequentemente interrompida, insuficiente ou perigosa. A crise demanda uma resposta humanitária robusta, neutra e contínua, antes que o desaparecimento de vidas se transforme em um colapso generalizado. Fontes: The National, Financial Times, Reuters
Barak Deri: o capitão da unidade de elite Matkal que sobreviveu ao inferno de Gaza

Sou brasileira e moro em Israel há alguns anos. Nesse período, tive a chance de conhecer pessoas verdadeiramente extraordinárias, mas poucas me marcaram tanto quanto meu amigo Barak Deri. Ele não é apenas um soldado — é um homem que carrega no olhar uma mistura rara de coragem, generosidade e resiliência. Barak integra a Sayeret Matkal, uma das unidades de operações especiais mais respeitadas e seletivas das Forças de Defesa de Israel. Um detalhe impressionante: todos os seus cinco irmãos também serviram na Sayeret Matkal, algo quase inédito, considerando o nível de excelência e os testes rigorosos exigidos para fazer parte desta tropa de elite. Essa tradição familiar revela a fibra, a disciplina e o senso de missão que correm no sangue dos Deri. Em dezembro de 2023, Barak participou de uma das operações mais dramáticas de sua carreira, destinada a resgatar reféns sequestrados pelo Hamas durante o massacre de 7 de outubro. A missão ocorreu nos becos e túneis de Gaza — corredores escuros, úmidos, repletos de armadilhas, que formam um verdadeiro labirinto mortal. No auge da operação, Barak e sua equipe se viram frente a frente com sete terroristas ao mesmo tempo, travando um combate corpo a corpo. Uma granada lançada pelos inimigos explodiu a poucos metros dele, destruindo sua perna e provocando graves ferimentos por estilhaços e tiros. Mesmo caído, Barak continuou atirando para proteger um companheiro que também havia sido ferido, e ao perceber terroristas tentando cercá-los pelas janelas, lançou suas próprias granadas — tudo isso já mortalmente ferido. Em uma de nossas conversas, Barak me contou que acreditou que seria capturado — e, sem saída, cogitou usar sua arma contra si mesmo para evitar o que mais temia: a tortura e a humilhação nas mãos do Hamas. Foi então que sentiu as mãos dos companheiros o puxando para fora daquele inferno subterrâneo, enquanto ainda escutava os colegas discutindo quem deveria ser evacuado primeiro. Ele, praticamente sem pulso, acabou ficando por último, já que os demais tinham mais chances de sobreviver. Graças a Deus, o resgate chegou a tempo. Barak foi levado ao hospital Sheba, onde permaneceu em coma por sete dias. Ao acordar, demorou a entender onde estava — e se ainda estava inteiro. Não estava: sua perna havia sido devastada, exigindo nada menos que 33 cirurgias para reconstruir ossos e músculos. O tornozelo precisou ser completamente fundido, tirando dele para sempre a capacidade de correr. Além disso, enormes cicatrizes marcam o seu corpo. Depois de quase um ano morando dentro do hospital, Barak ouviu a frase mais dura de todas: “Você nunca mais vai correr“. Essa sentença atingiu especialmente forte, pois correr era sua paixão, seu hobby favorito, a forma de aliviar o estresse do dia a dia e se reconectar consigo mesmo. Hoje, enfrenta dores crônicas, controladas apenas com medicamentos fortes, e precisará conviver com limitações para sempre. Apesar de tudo, Barak não se deixou abater. Poucos dias depois de acordar do coma, surpreendeu os médicos ao tentar se sentar e mexer a perna parcialmente reconstruída. Seu apelido na unidade era “Hércules“, e não por acaso. Talvez pudéssemos chamá-lo também de “Wolverine“, tamanho foi o espanto dos médicos com sua recuperação, depois de um embate tão brutal. Em outra de nossas conversas, ele relatou como revive quase todos os dias “o barulho da explosão, o cheiro de fumaça, o gosto de sangue“, e revelou ter sido diagnosticado com transtorno de estresse pós-traumático (PTSD). Mesmo assim, disse com convicção: “Eu faria tudo de novo“, pois acredita profundamente na missão de salvar vidas. Desde que recebeu alta, Barak passou a compartilhar sua história em eventos públicos e palestras motivacionais. Em outubro de 2024, durante uma cerimônia de memória do massacre de 7 de outubro no Hyde Park, em Londres, ele emocionou milhares de pessoas ao declarar: “Eu não sou uma vítima. Eu escolhi isso. Por pior que tenha sido, também foi a maior experiência da minha vida… Agora tudo tem mais força, a vida é mais poderosa.” Atualmente, Barak encara uma rotina exaustiva de fisioterapia, além de infecções recorrentes, dores constantes e a perspectiva de novas cirurgias nos próximos anos. Ainda assim, mantém o sorriso e transformou-se em inspiração para outros feridos, incentivando e acolhendo quem passa por situações semelhantes. Ele costuma abraçar pacientes e motivar equipes médicas, usando sua experiência para gerar esperança. Também encontrou uma forma de voltar a sentir liberdade: adquiriu uma bicicleta adaptada e, sempre que possível, pedala pelas ruas, reencontrando o prazer de sentir o vento no rosto e provando a si mesmo que ainda pode se mover e viver com dignidade. Além de soldado, Barak é pai de uma menina de apenas três anos, sua maior fonte de motivação. Apesar das sequelas, faz questão de participar de cada momento ao lado da filha — brincar, rir, acompanhar seu crescimento —, um presente que ele jamais tomará como garantido. Em suas palestras, dentro e fora de Israel, Barak compartilha lições poderosas de coragem, liderança, resiliência e espírito de equipe. Suas palavras tocam especialmente aqueles que enfrentam dores, físicas ou emocionais, mostrando que mesmo nos momentos mais sombrios ainda é possível se reconstruir — e ajudar outros a fazerem o mesmo. Ele não gosta de ser chamado de vítima e repete isso sempre que pode. Israel tem muitos soldados corajosos, mas poucos estiveram tão próximos da morte quanto ele e ainda carregam as marcas — no corpo e na alma — sem perder a dignidade e a vontade de servir. Para mim, Barak representa a verdadeira definição de herói — não aquele que nunca cai, mas aquele que, ao cair, encontra forças para se levantar, mesmo sabendo que jamais voltará a ser o mesmo. Hoje, Barak continua reconstruindo não apenas o corpo, mas também a alma. Suas cicatrizes jamais desaparecerão, mas se transformaram em símbolos de honra, gravados para sempre como prova de quem arriscou tudo para salvar outros. Se um dia me perguntarem quem me ensinou o significado mais profundo de coragem, responderei sem hesitar: Barak Deri.
Cessar-fogo entre Congo e Ruanda mediado por EUA entra em vigor

O governo da República Democrática do Congo (RDC) e Ruanda chegaram a um acordo pós-conflito que estabelece uma trégua e o retorno de refugiados, mas especialistas e ativistas alertam que existe o risco real de transformar a guerra em exploração de recursos naturais. O documento, divulgado recentemente e analisado por especialistas, inclui cláusulas para desmilitarização de certas regiões no leste da RDC, repatriação de populações deslocadas e reorganização de forças armadas na província de Kivu. No entanto, a falta de garantias ambientais, sociais e econômicas levanta preocupação diante da histórica riqueza mineral da região. Pela carta, os grupos de resistência congoleses devem ser integrados às forças armadas (FARDC), enquanto as tropas ruandesas se retirarão gradualmente. O pacto prevê monitoramento por uma força neutra da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral e da União Africana. Embora o cessar-fogo tenha reduzido confrontos diretos, a estabilidade ainda é frágil e dependerá da implementação eficiente das cláusulas. A região oriental da RDC é estratégica devido a recursos como ouro, coltan, estanho e cobalto — minerais vitais para tecnologias modernas. Especialistas destacam que a reconstrução pós-conflito muitas vezes serve de porta de entrada para corporações e governos estrangeiros em busca de concessões. “Sem salvaguardas claras, essa ‘paz em troca de exploração’ pode abrir espaço para que atores externos se apoderem dos lucros sem beneficiar a população local”, alertou a pesquisadora Marie N’Doumba. O filósofo e analista congolês Jean-Marc Tshonda reforça a crítica: “O acordo abstrai o contexto econômico. A mineração sempre foi fonte de conflito — se não houver controle social, a violência será apenas substituída pelo extrativismo predatório”. Organizações civis apontam que a inclusão de regulamentações ambientais e sociais foi mínima. Embora exista menção à reparação e reintegração de populações, não há mecanismos robustos de supervisão ou módulos fiscais para garantir que a renda permaneça no país. O uso de pequenas empresas locais como guardas comunitárias foi proposto, mas carece de amparo legal ou financeiro. Representantes do governo ruandês disseram à imprensa que a retirada das forças militares busca criar condições de confiança mútua e permitir que a RDC retome sua soberania sobre o território e seus recursos. Já Kinshasa ressaltou que o acordo é uma primeira etapa, e que os detalhes de implementação — como a distribuição de títulos de exploração e medidas de governança — devem ser negociados em fóruns técnicos multilaterais com apoio financeiro de parceiros internacionais. A ONU manifestou apoio, classificando o acordo como “oportunidade histórica de restauração da paz e reestruturação econômica”. Porém, também expressaram cautela, vinculando evolução a compromissos claros com direitos humanos, transparência e combate à corrupção. Fato preocupante é a autonomia limitada dos governos locais em Kivu: prefeitos e administrativos ainda dependem de decisões tomadas em Kinshasa ou Kigali, o que pode comprometer o monitoramento em campo. Pesquisas da International Crisis Group e Human Rights Watch já documentaram violações nos campos de refugiados que ainda permanecem ativos, com denúncias de violência sexual e abandono. O arcabouço internacional incluiu um fundo de transição orçado em US$ 500 milhões, sob supervisão da SADC e da UA, destinado à integridade das operações de limpeza, reintegração e gestão sustentável dos recursos. Contudo, fontes diplomáticas afirmam que a liberação do fundo dependerá de relatórios trimestrais e auditorias, cujo mecanismo de aplicação ainda está em definição. Para a população local, esse acordo é uma via de esperança, mas também de incertezas. A paz sem controle, fiscalização e justiça social corre o risco de se transformar em exploração disfarçada de desenvolvimento. O momento tornou-se simbólico não apenas para a RDC e Ruanda, mas para toda a África, refletindo a tensão entre restauração da ordem e equidade econômica num continente rico em recursos naturais. Fonte: Al Jazeera, BBC
Tarcísio abre vantagem para a Presidência e Lula tem pior aprovação do mandato

Cristiano Mariz/Agência O Globo