Perseguição religiosa continua na Síria, com sequestros de mulheres alauítas

Desde o fim do regime de Bashar al‑Assad, em dezembro de 2024, a minoria alauíta passou por um aumento alarmante de sequestros e desaparecimentos. A Reuters revelou que pelo menos 33 mulheres alauítas, entre 16 e 39 anos, desapareceram nos últimos meses nas regiões de Tartous, Latakia e Hama — regiões costeiras onde essa comunidade concentra-se. Uma das vítimas, Abeer Suleiman, de 29 anos, foi raptada na cidade de Safita. A família recebeu exigências de resgate de quase US$ 15.000, transferidos em pequenas quantias a bancos situados na cidade turca de Izmir. Em contato telefônico com a família, Abeer mencionou que o acento árabe que ela ouviu sugeria estar fora da Síria, embora não pudesse dar maiores informações. Esse caso é apenas parte de um padrão que, segundo famílias entrevistadas, mostra frequentes pedidos de resgate entre US$ 1.500 e US$ 100.000. A polícia síria, entretanto, investiga pouco e não oferece respostas satisfatórias. Perfis compilados com 16 famílias afetadas indicam que sete desses desaparecimentos envolvem sequestros confirmados, alguns com provas de que as mulheres foram levadas para fora do país. Embora quase metade tenha sido encontrada posteriormente, muitos retornaram em circunstâncias duvidosas e com receio de comentar o ocorrido. Esses casos ocorrem num contexto de escalada de violência brutal contra os alauítas na costa síria. Em março, ataques sectários causaram mais de mil mortes, e houve massacres e represálias de militantes xiitas e sunitas, que acusavam alauítas de serem cúmplices do agora deposto regime de Assad. Grupos armados teriam invadido aldeias, executado famílias com perguntas sobre afiliação religiosa e forçado famílias a abandonarem suas casas sem aviso prévio. Na falta de respostas internas, a Comissão de Inquérito da ONU iniciou investigação formal sobre os sequestros de mulheres alauítas, já documentando ao menos seis casos graves neste ano. O relatório revela que as investigações locais não avançaram e que as famílias continuam desamparadas. Em Tartous, um jornalista local acusou que muitos desaparecimentos são atribuídos a problemas familiares, uma versão contestada pelos relatos e provas documentais, como gravações, transferências bancárias e testemunhos. A inação das autoridades reforça a percepção de impunidade. Grupos de direitos humanos alertam que esses ataques podem representar uma forma de “genocídio cultural“. O analista Sami Kayal classificou os sequestros como “instrumentos sistemáticos para destruir a coesão social alauíta“, comparando-os à violência sexual usada como arma por extremistas. ONGs como Human Rights Watch apontam que os sequestradores, muitas vezes, agem com financiamento ou apoio de milícias sunitas alinhadas ao novo governo. As motivações seriam misturadas: ganhos financeiros, vingança, coerção religiosa e limpeza demográfica. A resposta internacional está aumentando. A ONU condenou os sequestros e o massacre de civis alauítas, e o Escritório de Direitos Humanos exigiu ações urgentes para proteger minorias e seus locais sagrados. Ainda assim, o governo interino sírio, liderado por uma coalizão sunita, afirma que a maioria dos desaparecimentos se deve à fuga ou disputas familiares, contradizendo denúncias de sequestros dirigidos. Enquanto isso, as famílias das vítimas vivem entre esperança e desespero. Muitas limitam-se a esperar por qualquer notícia, receosas de novas represálias caso falem publicamente. A atmosfera de medo se torna ainda mais tensa. O silêncio das ruas costeiras reflete um trauma profundo e o desmoronar da confiança na proteção estatal. O aumento desses crimes marca um preocupante retrocesso no processo de reconstrução da Síria, aprofundando divisões sectárias e minando qualquer proposta de reconciliação nacional. Para essas mulheres e comunidades, a queda de Assad, que prometia um novo começo, transformou-se em tempestade de horror e insegurança, sem garantias de retorno ou justiça. A Síria se vê diante de um dilema: permitir que o trauma sectário se enraíze ou buscar mecanismos urgentes para garantir proteção, verdade e reparação para todos. Fontes: Reuters e Qantara

IDF: Chefe da inteligência escreve carta aos soldados

Shlomi Binder, chefe da Inteligência de Israel, escreveu uma carta aos soldados que participaram da operação “Leão Ascendente” na guerra de doze dias contra o Irã. “Após 12 dias históricos de guerra contra o Irã, um cessar-fogo foi implementado, embora seja cedo para avaliar sua estabilidade. A Operação “Leão Ascendente” atingiu plenamente seus objetivos, até superando alguns deles: danificou componentes críticos do programa nuclear iraniano, interrompeu a cadeia de valor da indústria de mísseis e impediu o surgimento de uma ameaça existencial. Essas conquistas serão amplamente debatidas, e vocês, da Diretoria de Inteligência, tiveram papel essencial nelas. Mesmo assim, devemos manter a consciência de que o inimigo ainda é determinado e extremista, com uma visão diferente de vitória, enraizada na fé e na teimosia. Nossa diretoria deve permanecer na linha de frente nos próximos anos, por meio de alertas, coleta de informações, análise da realidade e desenvolvimento de novas ferramentas de ação. Neste momento de sucesso, ecoa também a lembrança do fracasso de 7 de outubro, que ocorreu dentro da mesma organização que agora colhe vitórias. Isso nos obriga a exercer humildade e reconhecer a complexidade da nossa missão. Quem atua na inteligência precisa manter ceticismo, autocrítica, constante de briefing e aprimoramento — tanto no êxito quanto no fracasso. A realidade de segurança de Israel melhorou, mas não ficou menos complexa. Continuam existindo desafios operacionais e de inteligência em várias frentes, incluindo a guerra em Gaza, com a meta de devolver nossos reféns e derrotar o Hamas. Durante a operação e os meses anteriores, tive o privilégio de conhecer muitos de vocês — comandantes, soldados, reservistas, pesquisadores, pessoal de operações — todos mostrando profunda fé na justiça da nossa causa, força extraordinária, iniciativa e paixão pela ação. São essas qualidades que nos permitirão seguir adiante, lidando com desafios futuros e revisando nossas lições e procedimentos. Espero ver cada um de vocês engajado nesse processo. “Antes da destruição, o coração do homem se eleva, mas a humildade precede a honra.” — Provérbios Estou orgulhoso e grato a todos. Shlomi Binder Chefe da Inteligência

Suprema Corte dos EUA autoriza Carolina do Sul a cortar verba da Planned Parenthood

A Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu na quinta-feira (26) permitir que a Carolina do Sul, governada por republicanos, retire a Planned Parenthood do programa de saúde pública Medicaid. A decisão, por maioria conservadora, anulou uma ordem de tribunais inferiores que protegia o repasse de recursos à entidade. A Planned Parenthood, organização sem fins lucrativos, oferece serviços de saúde como exames de câncer e contracepção, mas também realiza abortos, o que gerou oposição de líderes republicanos no estado. Desde que a Suprema Corte derrubou a decisão Roe v. Wade, em 2022, vários estados passaram a restringir o aborto e a Planned Parenthood se tornou alvo de cortes de financiamento público. No caso da Carolina do Sul, o governador republicano Henry McMaster já havia determinado em 2017 que clínicas que ofereçam aborto não poderiam receber dinheiro do Medicaid, programa destinado a pessoas de baixa renda. Uma paciente atendida pela Planned Parenthood e a própria organização entraram na Justiça para tentar reverter a medida, alegando direito de escolher livremente o provedor médico. Após idas e vindas judiciais, a Suprema Corte agora decidiu a favor do estado, reforçando o direito dos governos estaduais de excluir provedores de aborto do financiamento público. Fonte: Al Jazeera

A caixa-preta do narcotráfico da América Latina está prestes a ser aberta

O ex-diretor de Inteligência Militar da Venezuela, o Major-Brigadeiro Hugo Armando Carvajal Barrios, também conhecido pela alcunha de “El Pollo”, declarou-se culpado na última quarta-feira (25), antes mesmo de seu julgamento no Tribunal Federal de Manhattan, sob 4 acusações criminais. Seu julgamento está marcado para iniciar nessa segunda-feira (30) e promete abrir a caixa-preta do narcotráfico da América Latina. Nesse artigo, trazemos tudo o que conseguimos apurar sobre o caso. Hugo Carvajal Carvajal nasceu no dia 1 de abril de 1960, em Puerto la Cruz, Anzoátequi, Venezuela. Concluiu seus estudos na Academia Militar da Venezuela, em 1981, onde teria conhecido e sido instruído por Hugo Chávez. Carvajal participou da tentativa de golpe na Venezuela em 1992, junto a Chávez e o MBR-200, Movimento Revolucionário Bolivariano 200, que apesar de ter fracassado, trouxe visibilidade nacional para Chávez, o que propiciou sua posterior subida ao poder. Apelidado de “El Pollo” pelo próprio Chávez, Carvajal liderou a Inteligência Militar Venezuelana (DIM – Direccion de Inteligencia Militar) entre 2004 e 2011. E, novamente, em 2013, ano de subida ao poder de Nicolás Maduro. Em 2012, Carvajal foi nomeado Chefe Oficial contra o Crime Organizado e Financiamento do Terrorismo e, em 2013, Chefe da Contrainteligência Militar. Sim, estamos falando de uma das figuras mais poderosas do governo venezuelano naquele período. Rompimento com Maduro Em fevereiro de 2019, Carvajal fez um vídeo declarando seu apoio publicamente a Juan Gerardo Antonio Guaidó Márquez, principal opositor de Maduro e em seguida, autoridades venezuelanas o acusaram de traição, conspiração, financiamento do terrorismo e associação criminosa. Maduro o expulsou das Forças Armadas em abril do mesmo ano, após o mesmo conclamar que as forças militares rompessem com o governo e permitissem a chegada do transporte de ajuda humanitária na crise venezuelana. Episódio esse, marcado pelo impedimento do governo. Prisão Carvajal foi preso na Espanha em 2019, a pedido do governo dos Estados Unidos, que solicitou sua extradição para julgamento. No entanto, uma apelação apresentada para negar a extradição chegou a ser aceita pelo governo espanhol, mas acabou sendo anulada logo em seguida. Aproveitando-se do imbróglio entre os governos espanhol e americano, Carvajal fugiu e se escondeu por 2 anos, vindo a ser detido novamente em setembro de 2021. Seu pedido de asilo foi negado e sua extradição aprovada. Em seguida, conseguiu suspender temporariamente sua extradição ao apelar para o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, porém foi autorizada novamente e cumprida, em julho de 2023, sendo enviado para Nova Iorque. Ele chegou a alegar inocência ao cumprir extradição. Indiciamento Carvajal foi formalmente indiciado pelo Departamento de Justiça dos EUA, o DOJ, em 26 de março de 2020, junto a Maduro e outras 13 autoridades venezuelanas de alto escalão. Entre as acusações, está a participação, ao lado de altos oficiais venezuelanos, no comando do chamado Cartel de los Soles, em associação com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).. O nome do cartel, “Cartel dos Sóis“, se refere às insígnias solares afixadas nos uniformes de oficiais militares de alto escalão da Venezuela. “Os membros do Cartel de Los Soles abusaram do povo venezuelano e corromperam as instituições legítimas da Venezuela – incluindo partes dos militares, aparato de inteligência, legislatura e judiciário – para facilitar a importação de toneladas de cocaína para os Estados Unidos. O Cartel de Los Soles procurou não apenas enriquecer seus membros e aumentar seu poder, mas também ‘nundar’ os Estados Unidos com cocaína e infligir os efeitos nocivos e viciantes da droga sobre os usuários nos Estados Unidos. Para atingir esses objetivos, os líderes do Cartel de Los Soles fizeram uma parceria com líderes das FARC, uma organização terrorista violenta com sede na Colômbia que se dedicava à derrubada do governo colombiano, responsável pela produção e distribuição da maioria da cocaína que chegou aos Estados Unidos.” – DOJ Carvajal, “El Pollo“, teria se aproveitando de sua posição para favorecer do tráfico ilegal de drogas e apoio de seus parceiros, o que inclui as FARC. Em 2006, coordenou junto a outros membros do cartel de Los Soles o despacho de um carregamento de 5,6 toneladas de cocaína da Venezuela para os Estados Unidos, em um avião DC-9, que teria partido da Venezuela com escala no México, onde foi apreendido pelas autoridades mexicanas. Coordenado embarques de drogas junto às Farc sob sua proteção e com segurança fortemente armada, além de vender e fornecer armas automáticas e explosivos para a organização criminosa, em suas atividades terroristas. Além de participar de sequestros e assassinatos envolvendo o tráfico de drogas e seus membros. Inclusive, um dos acusados já foi condenado, Cliver Antonio Alcala Cordones, ex-general das Forças Armadas venezuelanas, que recebeu uma pena de 260 meses de prisão, após se declarar também culpado, em abril de 2024. Seu julgamento começará na próxima segunda (30), abaixo segue uma tabela contendo suas acusações formais e penas previstas: Acusações Penas mínimas e máximas 1ª Acusação: Narco-terrorismo Mínima: 20 anos de prisão; Máxima: Prisão Perpétua 2ª Acusação: Tráfico Internacional de Narcóticos Mínima: 10 anos de prisão; Máxima: Prisão Perpétua 3ª Acusação: Posse de armas de fogo, incluindo automáticas e dispositivos destrutivos Mínima: 30 anos de prisão, consecutiva a qualquer outra pena de prisão imposta; Máxima: Prisão Perpétua 4ª Acusação: Conspiração para possuir armas de fogo, incluindo automáticas e dispositivos destrutivos Máxima: Prisão Perpétua Obs: As sentenças aqui descritas são prescritas pelo Congresso e fornecidas apenas para fins informativos. Qualquer sentença será determinada pelo juiz. Fonte: DOJ Diante de sua confissão, sua condenação já é dada como certa em pelo menos 50 anos. Levando-se em consideração que o mesmo possui 65 anos de idade, sua pena mínima e máxima se equivalem, na prática. O que gera muita expectativa em um possível acordo de confissão, visando a diminuição de sua pena, mediante delações importantes. A data da sua sentença está marcada para dia o 29 de 0utubro de 2025. Pronunciamentos do DEA O DEA (Drug Enforcement Administration), Administração de Repressão às Drogas, Órgão Federal de Segurança do Departamento de Justiça, através de seus procuradores, chegou a declarar: “Hoje

Especialista em resgate comenta morte de brasileira na Indonésia e alerta: “sobrevivência é hierarquia”

O especialista em gestão de desastres e resgates Léo Farah publicou em seu Instagram um alerta sobre erros fatais em situações de emergência, motivado pela morte da brasileira Juliana Marins na Indonésia. Segundo as autoridades locais, Juliana desapareceu em uma área remota e foi encontrada sem vida após dias de buscas. No carrossel publicado em seu perfil, Farah comentou perguntas frequentes que recebe: “Leo, por que tanta gente preparada morre e outros que nem treinados são, sobrevivem?”. A resposta, segundo ele, está em ignorar a prioridade correta: “A maioria se prepara pro cenário errado. Leva comida… mas esquece de abrigo. Tem celular… mas não tem sinalização. Sabe como reagir… mas não sabe o que vem primeiro”, escreveu. Farah destacou a chamada Regra dos 3, que sintetiza as prioridades em resgates: O especialista reforçou que essa hierarquia pode determinar quem vive e quem morre em situações extremas, como a de Juliana Marins. “É essa hierarquia que eu vi decidir a vida de vítimas nas situações mais críticas do Brasil e do mundo. Você carrega o peso do seu conforto ou da sua sobrevivência. O que você escolhe levar pode te matar. Ou pode te dar 48 horas a mais. Tempo suficiente pra ser encontrado”, concluiu. Nas imagens do post, Farah ainda orienta o que nunca pode faltar em um kit de sobrevivência, citando filtro ou pastilhas para água, abrigo térmico, sinalização e primeiros socorros, para garantir chances reais de resgate. Quem é Léo Farah? Léo Farah é especialista em gestão de desastres, operações de resgate e atendimento pré-hospitalar, com mais de 20 anos de experiência em salvamentos urbanos e rurais. Atuou em grandes tragédias no Brasil, como o rompimento da barragem de Brumadinho e as enchentes históricas do Rio Grande do Sul em 2024, quando coordenou equipes voluntárias e ajudou a estruturar operações de resgate e apoio humanitário em áreas completamente isoladas. É reconhecido por seu trabalho em treinamento de equipes de emergência e pela conscientização sobre sobrevivência e preparação em situações extremas.

STF define que mídias sociais deverão ser responsabilizadas por posts criminosos ou ofensivos de seus usuários

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quinta-feira (26), que o artigo 19 do Marco Civil da internet, que trata da responsabilidade das plataformas de mídias sociais, é parcialmente inconstitucional. A Seção III, referente a “Da Responsabilidade por Danos Decorrentes de Conteúdo Gerado por Terceiros”, artigo 19 do Marco Civil, descreve:Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário. O STF considerou que a remoção de conteúdos, somente a partir de decisão judicial não é suficiente para preservar a dignidade das pessoas. Sendo assim, definiu que as plataformas de mídias sociais deverão ser responsabilizadas por postagens criminosas ou ofensivas de seus usuários. E, portanto, deverão acatar notificações extrajudiciais na remoção de conteúdos irregulares. Caso a plataforma não acate a remoção do conteúdo através de notificações extrajudiciais e, mais adiante, a Justiça considerar que a postagem era irregular, a mesma resultará em punição. Crimes contra a honra Em casos específicos, de crimes contra a honra, como difamação, o entendimento permanece como já está configurado. Ou seja, as plataformas só serão obrigadas a retirar o conteúdo se a Justiça solicitar, não incidindo em punições, caso não acatem a notificação extrajudicial. Também ficou definido que, quando um fato ofensivo já reconhecido por decisão judicial for repetidamente replicado, todos os provedores deverão remover as publicações com conteúdos idênticos a partir de notificação judicial ou extrajudicial, independente de novas decisões judiciais nesse sentido. O entendimento da Corte também prevê a atuação das mídias de forma “proativa“, dando permissão para a atuação de seus moderadores em casos que configurem discurso de ódio, racismo, pedofilia, incitação à violência ou golpe de Estado, abolição do Estado Democrático de Direito, terrorismo, instigação à mutilação ou ao suicídio, homofobia, e crimes contra mulheres e crianças, de forma prévia e preventivamente. Contudo, caso não sejam removidos conteúdos que possam configurar nos casos acima e a Justiça os considere, incidirá em responsabilização. Os ministros André Mendonça, Nunes Marques e Edson Fachin, que consideraram constitucional a exigência de ordem judicial em todas as hipóteses, foram votos vencidos, na decisão que venceu por 8 x 3, sobre a inconstitucionalidade parcial do artigo 19, do Marco Civil. A decisão levará as empresas de tecnologia, as Bigtechs, detentoras de mídias sociais, a reverem seus protocolos de denúncias, assim como sua moderação de conteúdo. Conferindo mais poder de moderação, todavia, incidindo em uma maior responsabilização.

Teerã retoma a rotina em meio a ruínas: iranianos voltam para casa temendo nova guerra

Após 12 dias de conflito entre Irã e Israel, Teerã vive um retorno cauteloso à normalidade — cafés e bazares abriram, serviços públicos funcionam novamente e milhares de residentes deslocados retornam à capital. No entanto, para muitos, a sensação de segurança ainda parece distante. Ashraf Barghi, enfermeira, resumiu bem: “Não confiamos que a guerra tenha terminado“. O êxodo começou após os bombardeios israelenses em 13 de junho, que visaram instalações nucleares, bases do IRGC e até a prisão de Evin. Centenas morreram, inclusive mulheres e crianças, e quase meio milhão de pessoas abandonaram Teerã, muitas em direção às províncias do norte, como Mazandaran, Gilan, Alborz e áreas costeiras do Mar Cáspio. Nika, 33 anos, grávida, refugiou-se por 11 dias em Zanjan. Sua volta à casa foi descrita como “chegar ao paraíso“. Mas ela mesma admite: “Não sei se o cessar-fogo vai durar”. Mesmo com esse regresso tímido, a atmosfera é marcada por tensão. A conectividade voltou, mas a internet ainda é instável e o silêncio das ruas, antes habitadas e vibrantes, continua estranho. Checkpoints de segurança, prisão de supostos espiões e rumores de novos ataques circulam entre a população. A guerra trouxe efeitos devastadores além das mortes. Supermercados enfrentam escassez de alimentos, remédios, combustível e até papel higiênico. O racionamento de combustível é rigoroso e caixas eletrônicos estão vazios. A economia, já fragilizada por sanções e má gestão, enfrenta nova crise. Muitos teimaram em permanecer. Mahin, 47 anos, disse ao The New Arab que “confiava na precisão israelense” até o impacto se aproximar de sua casa e o fogo sobreviver nos arredores. Ela relata ter fugido com medo real por sua vida. Autoridades reconheceram danos materiais: prédios residenciais, estações de TV, fábricas, postos de segurança, redes elétricas e até centros nucleares foram atingidos. Muitos desses locais ainda estão em colapso, com grande parte da população voltando para um lar parcialmente destruído. Intensificação da repressão Já no front político, crescem os receios. A intensificação da repressão é vista por muitos como inevitável. A turbulência econômica aumenta o descontentamento, com protestos reprimidos violentamente em anos anteriores, e a ameaça de nova onda autoritária se torna real. No momento, a trégua permanece instável. Israel relatou violações do cessar-fogo, e o Irã denunciou novos ataques após o anúncio do armistício. Enquanto isso, os iranianos voltam para casa, carregando escombros físicos e emocionais, cautelosos quanto ao futuro do país. Apesar da atmosfera de incerteza, muitos expressam alívio por voltar para perto do que ainda chamam de lar. Eles sabem que os desafios irão se estender, das relações internacionais aos direitos domésticos e ao sustento econômico, mas apostam na resiliência da sociedade iraniana, determinada a reconstruir. Fontes: Al Jazeera, Reuters

EUA e Irã mantêm conversas secretas sobre programa nuclear

Em meio à recente ofensiva militar contra três instalações nucleares iranianas, os Estados Unidos seguem engajados em conversas com Teerã sobre seu programa nuclear. Segundo a CNN, o enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, e autoridades iranianas têm mantido diálogos secretos, inclusive após o bombardeio ordenado pelo presidente Trump, sinalizando disposição para retornar à mesa de negociações. De acordo com quatro fontes consultadas pela emissora, os EUA ofereceram uma proposta abrangente: entre US$ 20 bilhões e US$ 30 bilhões em investimentos para um programa nuclear civil sem enriquecimento, e potencial desbloqueio de US$ 6 bilhões em ativos iranianos congelados. A proposta inclui também que aliados do Golfo possam financiar a reconstrução da usina de Fordow, convertida, sob supervisão internacional, em uma instalação puramente civil. Essa postura pragmática ocorre mesmo após Trump afirmar na cúpula da OTAN que “um novo acordo nuclear talvez não seja necessário“. Ainda assim, ele confirmou que conversas estão sendo agendadas para a próxima semana, sem data definida. Por outro lado, o Irã resiste às negociações. O Ministro das Relações Exteriores Abbas Araghchi afirmou que ainda não há “nenhum acordo, promessa ou data“ para retomar o diálogo e que os ataques americanos complicaram significativamente qualquer retomada das conversações. Fontes da ONU e diplomatas europeus relatam que, apesar das dificuldades, o cenário permanece volátil: o cessar‑fogo entre Israel e Irã, intermediado pelos EUA, reabriu canais com europeus, que têm conduzido conversas paralelas com Teerã em Genebra, embora sem avanços significativos até o momento. O impacto geopolítico é evidente. A Europa, representada pelas nações do E-3 (França, Alemanha e Reino Unido), vem pressionando para que o Irã se comprometa com a suspensão total do enriquecimento de urânio, como base para qualquer retorno aos tratados nucleares. O enviado britânico ao Conselho de Segurança da ONU alertou que, se não houver progresso até o verão, sanções da ONU poderão ser impostas ao país. A conjuntura atual é tensa: os EUA e Israel realizaram ataques militares que, embora tenham causado “danos significativos” a instalações como Fordow, Natanz e Isfahan, não eliminaram o potencial nuclear do Irã, e segundo relatórios, as centrifugas permanecem operacionais e parte do urânio acumulado foi realocado. Mesmo assim, o presidente Trump defendeu no Fórum da OTAN que a reconstrução civil supervisionada é viável, condicionando a retomada das negociações ao fim do enriquecimento de urânio e à segurança regional. O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, alertou que a única forma de avaliar o real estado das instalações é por meio de inspeções diretas. Ele lembrou que, sem o acesso dos inspetores, não é possível confirmar se o material foi removido ou se o programa nuclear se restabelece. Analistas de segurança consideram que os EUA tentam equilibrar a dissuasão militar com uma reconexão diplomática, usando incentivos econômicos como contrapartida. Mas advertem: sem garantias jurídicas que impeçam o Irã de retomar o enriquecimento, qualquer acordo será apenas temporário. A ambiguidade prevalece também porque Trump enfrenta pressões internas, membros do Partido Republicano exigem garantias de proibição total do programa nuclear, enquanto setores do movimento “America First” preferem evitar envolvimento militar prolongado no Oriente Médio. Embora os passos sejam cautelosos, a abertura de canais diplomáticos paralelos aos ataques marca uma nova fase nesta crise: os EUA buscam converter as tensões e os ataques em alavancas para um acordo mais estável, ainda que o Irã se mantenha reticente. O futuro das negociações dependerá tanto da capacidade norte-americana de oferecer garantias credíveis quanto da disposição iraniana de aceitar limitações reais ao seu programa nuclear. Fontes: CNN, The Daily Beast

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