A região mais volátil do mundo para conflitos armados

Um novo relatório do Global Peace Index 2025 revela que a África Subsaariana tornou-se a região mais volátil do mundo em termos de conflitos armados. Segundo o Instituto de Economia e Paz (IEP), mais da metade dos 44 países africanos avaliados teve piora nos indicadores de militarização. Isso se deve ao aumento dos orçamentos de defesa, envolvimento em conflitos transfronteiriços e à queda drástica nos investimentos em construção da paz. Conflitos em países como República Democrática do Congo, Sudão do Sul, Etiópia e Burkina Faso estão entre os mais propensos a escalarem globalmente. Esses países compartilham diversos fatores de risco, como fragilidade estatal, instabilidade política, presença de milícias e influência estrangeira. As tensões no Sahel, por exemplo, têm sido reinterpretadas como jihadistas, o que atrai apoio externo e armamento, agravando os confrontos. A militarização vem crescendo: 23 países aumentaram o gasto militar em proporção ao PIB. Burkina Faso e Mali romperam com a CEDEAO e reforçaram parcerias com a Rússia e a nova Aliança dos Estados do Sahel, gerando acusações de violações de direitos humanos e repressão à sociedade civil. Observa-se uma mudança de influência ocidental (EUA e França) para potências como Rússia e China, especialmente na área econômica. Além disso, tropas africanas estão sendo cada vez mais enviadas ao exterior em nome das missões de paz, mas especialistas alertam que essa projeção militar pode ocultar interesses estratégicos. Exemplo disso é Ruanda, com presença militar em Moçambique, República Centro-Africana e Benim. A RDC superou o Afeganistão como o quarto país menos pacífico do mundo, devido à atuação do grupo M23, à interferência externa (inclusive com denúncias contra Ruanda) e ao fracasso dos esforços regionais de paz. Já o Sudão vive um colapso humanitário após o conflito entre as Forças Armadas e as Forças de Apoio Rápido. Apesar do aumento militar, os investimentos globais em construção da paz representam apenas 0,52% dos gastos com defesa, uma queda de 26% desde 2008. A crise da dívida africana compromete ainda mais a capacidade dos Estados em investir em programas sociais, juventude e reconciliação. O relatório conclui que a paz global vem se deteriorando nos últimos 17 anos, sendo a África responsável por parcela crescente desse declínio. O IEP apela por um retorno ao conceito de “Paz Positiva”, baseada em governança eficaz, acesso à informação e fortalecimento do capital humano. Fonte: The Africa Report
Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes podem ser investigados pela justiça portuguesa

O partido português Chega, liderado por André Ventura, voltou a causar polêmica ao prometer investigar a atuação e os supostos vínculos do ministro brasileiro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, em Portugal. A declaração partiu do deputado Marcus Santos, eleito pela sigla para representar os brasileiros residentes em solo português, e foi feita durante entrevista ao canal Sérgio Tavares. Segundo Santos, caso André Ventura chegue ao cargo de primeiro-ministro, o governo português terá condições de investigar tanto Gilmar Mendes quanto o também outro ministro do STF, Alexandre de Moraes. “A vida deles em Portugal será investigada“, afirmou o parlamentar, mencionando a possibilidade de patrimônio oculto e influência indevida em instituições portuguesas. A fala repercutiu rapidamente nas redes sociais, que passaram a tratar o tema como se uma investigação já estivesse em andamento. Vídeos, áudios e postagens em grupos políticos sugeriram que Gilmar Mendes estaria sendo alvo de apurações por parte das autoridades portuguesas — o que, até o momento, não passa de especulação. De acordo com a apuração feita pelo jornal português Observador, não há nenhuma investigação oficial em curso contra Gilmar Mendes em Portugal. O veículo consultou bases judiciais, incluindo o Ministério Público e a Polícia Judiciária, e não encontrou qualquer indício de processo aberto ou denúncia formal. Ainda segundo o jornal, mesmo a Procuradoria-Geral da República de Portugal não tem registros de pedidos ou tramitações envolvendo o nome do ministro brasileiro. As declarações de Marcus Santos, portanto, são vistas mais como um movimento político do que como um fato concreto. Apesar de ter conquistado espaço na Assembleia da República nas últimas eleições, o Chega não detém cargos executivos e está distante de liderar o governo português. Mesmo que André Ventura viesse a se tornar primeiro-ministro, como ambiciona, a abertura de investigações não depende do poder político, mas sim de fundamentos legais, denúncias consistentes e autorização das autoridades competentes. Gilmar Mendes possui histórico de atuação acadêmica em Portugal, onde mantém vínculos institucionais com universidades e participa de fóruns jurídicos internacionais. Nos últimos anos, ele esteve em Lisboa em eventos organizados em parceria com o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), do qual é fundador. Esses encontros já foram criticados por setores mais conservadores tanto no Brasil quanto em Portugal, que enxergam neles uma tentativa de exercer influência política e institucional além das fronteiras brasileiras. Apesar disso, não há qualquer indício de irregularidade relacionado às atividades do ministro em território português. As alegações de Marcus Santos tampouco foram acompanhadas de provas ou indícios que pudessem sustentar juridicamente uma investigação formal. Em nota, fontes do Judiciário português reforçaram que o sistema legal do país é independente e não responde a declarações de cunho político. Qualquer investigação envolvendo cidadãos estrangeiros, sobretudo figuras públicas, deve ser iniciada a partir de denúncias fundamentadas e submetida aos trâmites regulares do Ministério Público. Enquanto isso, o Chega segue utilizando o discurso nacionalista e de combate à “influência externa” como pilar de sua narrativa. A promessa de investigar ministros brasileiros parece estar mais ligada à estratégia de mobilização de sua base conservadora — tanto em Portugal quanto entre brasileiros expatriados — do que a fatos ou ações efetivas. Até o momento, Gilmar Mendes não se pronunciou oficialmente sobre o caso. Fontes: Observador e O Antagonista
Brasil condena ataques ao Irã e reforça autonomia diplomática: entenda a aproximação entre os países

Neste domingo (22), o governo brasileiro, por meio do Itamaraty, manifestou-se oficialmente sobre os ataques realizados por Israel e pelos Estados Unidos contra instalações nucleares no Irã, ocorridos no sábado (21). Em nota, o Ministério das Relações Exteriores expressou “grave preocupação com a escalada militar no Oriente Médio” e condenou “com veemência” os bombardeios, que violam a soberania iraniana e tratados internacionais de segurança nuclear. Segundo o comunicado, ofensivas contra estruturas atômicas civis representam: “Uma flagrante transgressão da Carta das Nações Unidas e das normas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)”, com potencial para causar “danos irreversíveis à saúde humana, ao meio ambiente e à estabilidade regional.” O Brasil também reafirmou sua posição histórica de defesa do uso exclusivamente pacífico da energia nuclear e apelou por “máxima contenção” de todas as partes envolvidas, destacando a urgência de uma solução diplomática para o conflito. Brasil e Irã: aproximação sob escrutínio Um dos marcos recentes na aproximação diplomática entre Brasil e Irã foi a autorização para que os navios de guerra iranianos IRIS Makran e IRIS Dena atracassem no Porto do Rio de Janeiro, em fevereiro de 2023. A visita gerou reações do governo norte-americano. A embaixadora dos EUA no Brasil, Elizabeth Bagley, chegou a sugerir que as embarcações poderiam estar envolvidas com tráfico de armas ou transporte de materiais sensíveis. A repercussão gerou boatos em redes sociais e blogs, sugerindo que os navios teriam vindo ao Brasil buscar urânio enriquecido. As alegações foram prontamente desmentidas pelas autoridades brasileiras e pela Marinha do Brasil. “O Brasil não exporta urânio enriquecido para fins militares.Somos signatários do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e de acordos com a AIEA, que limitam o uso do nosso urânio exclusivamente a fins pacíficos.”— Nota conjunta do Ministério de Minas e Energia e do Itamaraty (fev. 2023) A Indústrias Nucleares do Brasil (INB) também reforçou que todo o ciclo do urânio nacional é rigidamente monitorado por técnicos da AIEA, impossibilitando desvios para uso bélico ou exportações não autorizadas. Alckmin em Teerã: missão diplomática oficial Em julho de 2024, o vice-presidente Geraldo Alckmin representou o Brasil na posse do novo presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, em Teerã. Durante a visita oficial, Alckmin participou da cerimônia de posse, reuniu-se com autoridades iranianas. Parte do alto escalão reunido na cerimônia foi eliminado no conflito que ocorre no Oriente médio. Fontes: Ministério das Relações Exteriores – Nota oficial (22/06/2025) INB – Informes sobre o ciclo do urânio no Brasil AIEA e ABACC – Relatórios de monitoramento nuclear Portal da Vice-Presidência – Agenda oficial de Alckmin em Teerã (julho de 2024)
Irã ataca bases dos EUA no Oriente Médio em retaliação a bombardeios nucleares

O Irã lançou, nesta segunda-feira (23), uma ofensiva de retaliação contra bases militares dos Estados Unidos localizadas no Catar e no Iraque. O ataque, batizado de “Operação Tidings of Victory“, ocorre menos de 48 horas após bombardeios conduzidos por Israel e pelos EUA contra instalações nucleares iranianas. Segundo o New York Times, o Irã avisou com antecedência sobre ataques à base do Catar para minimizar as baixas. Segundo o governo iraniano, o ataque visou Al Udeid, base aérea americana no Catar — a maior instalação militar dos EUA na região — e Ain al‑Assad, no oeste do Iraque. O número de mísseis disparados ainda é incerto, mas fontes da mídia estatal iraniana apontam entre seis e dez lançamentos balísticos. O Irã declarou que a ofensiva foi “proporcional” aos ataques sofridos no sábado, enfatizando que cada míssil lançado seria uma resposta direta a uma bomba estrangeira lançada em solo iraniano. Relatos vindos de Doha, capital do Catar, registraram explosões audíveis e movimentações defensivas do sistema antiaéreo. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram interceptações no céu da cidade. Como medida preventiva, o espaço aéreo catariano chegou a ser temporariamente fechado. Ainda não há confirmação oficial de vítimas ou danos significativos nas bases atingidas. O Pentágono informou que as forças americanas estavam em alerta máximo e que os sistemas de defesa agiram rapidamente diante do ataque. O presidente dos EUA, Donald Trump, foi levado à Sala de Crise para avaliar a resposta do país. Fontes militares afirmam que novas medidas estão sendo analisadas, incluindo possíveis represálias. As sirenes soaram em todas as bases dos EUA no Oriente Médio, incluindo Síria, Iraque, Jordânia, Arábia Saudita, Kuwait, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos e Omã. O Ministério da Defesa do Catar classificou o lançamento de mísseis como violação da soberania nacional e reafirmou que o país reserva-se ao direito de responder, caso necessário, dentro dos preceitos do direito internacional.
“Dependerá do que o Irã precisar”: Rússia promete apoio ao Irã e confronta os EUA após bombardeios em Teerã

O Kremlin elevou o tom no cenário internacional ao declarar publicamente seu apoio ao Irã, após o bombardeio americano às instalações nucleares iranianas. Durante um encontro realizado em Moscou, o presidente Vladimir Putin recebeu o ministro iraniano das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, e foi direto: “Estamos prontos para ajudar o Irã“. Segundo Putin, o ataque dos Estados Unidos foi uma agressão “não provocada e injustificável” contra o território iraniano, colocando em risco a estabilidade global. “Trata-se de um ato que fere profundamente as normas internacionais“, afirmou o presidente russo durante a reunião no Kremlin. As palavras de Putin ganham ainda mais peso diante do contexto: com as tensões cada vez maiores no Oriente Médio, a aproximação entre Moscou e Teerã marca uma clara sinalização de confronto indireto entre Rússia e Estados Unidos. Embora o Kremlin não tenha especificado que tipo de ajuda poderá oferecer, o porta-voz Dmitri Peskov deixou claro que “dependerá do que o Irã precisar“. Leia mais: Após ataques dos EUA, TV estatal iraniana declara americanos como “alvos legítimos” na região – Danuzio Do lado iraniano, Araghchi agradeceu o respaldo russo e reafirmou que Teerã está agindo em legítima defesa diante do que chamou de agressão ocidental. A imprensa estatal iraniana também ecoou a posição de Moscou, afirmando que o ataque americano viola o Tratado de Não Proliferação Nuclear e compromete a segurança global. Dentro da própria Rússia, a resposta foi ainda mais dura. Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança, declarou que as ações americanas podem acabar fortalecendo o regime de Khamenei, unificando ainda mais o povo iraniano em torno de sua liderança. Leia mais: Ataque cirúrgico e tensão global: generais israelenses revelam bastidores da ofensiva contra o programa nuclear iraniano – Danuzio A crise, que já envolve Israel, Irã e agora diretamente as duas superpotências, alimenta o temor de um cenário de escalada global imprevisível. Enquanto o Ocidente tenta conter o programa nuclear iraniano, Moscou se posiciona como defensor estratégico de Teerã, ampliando o campo de confronto geopolítico. O mundo observa agora, com crescente preocupação, o próximo passo deste tabuleiro complexo. Fonte: The Economic Times, Reuters e Reuters
Doação de órgãos: recusa familiar atinge 46% no Brasil, com Norte e Nordeste liderando rejeições

A falta de campanhas públicas de conscientização sobre a doação de órgãos segue impactando a vida de milhares de brasileiros. Ao longo de 2024, quase metade das famílias entrevistadas (46%) recusou autorizar a doação de órgãos de seus entes queridos, de acordo com os dados mais recentes da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). A recusa permanece como o principal obstáculo para a efetivação dos transplantes no país. A situação torna-se ainda mais preocupante ao se analisar os números por estado e região. Sul lidera autorizações – Norte e Nordeste mantêm as maiores taxas de recusa A Região Sul continua a ser exemplo nacional em doação de órgãos. O destaque vai para o Paraná, com a maior quantidade de entrevistas realizadas (854) e uma das menores taxas de recusa familiar: 28%. Isso significa que mais de 70% das famílias disseram “sim” à doação, reflexo direto de campanhas estaduais permanentes e uma estrutura de apoio eficiente. Santa Catarina, outro estado do Sul, também apresenta desempenho positivo, com recusa de 32% entre as famílias entrevistadas. Já nas regiões Norte e Nordeste, os índices permanecem altos. Em Piauí, 68% das famílias recusaram a doação — mesmo percentual de recusa registrado no primeiro trimestre do ano. Outros estados com índices alarmantes incluem: A ausência de campanhas públicas regulares, a falta de preparo das equipes de entrevista e o desconhecimento da população sobre o processo de doação são fatores que contribuem para essa resistência. História que toca: Nicole Plauto clama por um coração para o pai Em meio a estatísticas duras, histórias como a da administradora Nicole Plauto, filha de Marcus — conhecido por muitos como Marquinhos — dão rosto à urgência do tema. Marcus está na fila de transplante cardíaco. O coração que distribuiu amor por tantos anos agora precisa receber. Dois anos antes, a mesma família enfrentou a dor da perda: a irmã mais nova de Marcus faleceu de forma repentina, vítima de um AVC. Diante do luto, a família disse “sim” à doação de seus órgãos. Cinco pessoas foram salvas naquele dia. Agora, é a família de Nicole que espera que outra família diga sim. “Talvez o seu sim seja o que vai salvar o meu pai“, escreveu Nicole em carta aberta. “Doar é transformar dor em vida. É amar até depois do fim.“ Comunicar à família o desejo de ser doador O relatório da ABTO aponta que a recusa familiar continua sendo a principal causa de não concretização da doação no Brasil. Isso reforça a importância de um gesto simples: comunicar à família o desejo de ser doador. Pela legislação brasileira, a doação só ocorre com o consentimento dos familiares, mesmo quando a pessoa manifesta esse desejo em vida. Urgência de campanhas nacionais O Brasil tem potencial para avançar em transplantes, mas sem campanhas educativas constantes, a rede pública continuará refém do silêncio e do medo. O Ministério da Saúde e os governos estaduais precisam reforçar o debate público, promovendo ações em escolas, unidades de saúde e meios de comunicação. Cada “sim” pode salvar até oito vidas. Em um país com mais de 50 mil pessoas na fila de espera por um órgão, cada recusa é também uma vida que se apaga.
Israel ataca o coração do regime iraniano

A tensão entre Israel e Irã atingiu um novo patamar nas últimas horas desta segunda-feira (23). Sob ordens do Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu e do Ministro da Defesa Israel Katz, as Forças de Defesa de Israel (FDI) lançaram ataques diretos e de intensidade inédita contra o regime dos aiatolás, atingindo alvos estratégicos no centro de Teerã. Entre os locais bombardeados está o quartel do Basij, a força paramilitar que o regime utiliza para reprimir manifestações internas e manter o controle sobre a população. A temida prisão de Evin, onde há décadas estão presos opositores políticos, também foi alvo dos ataques. Outro símbolo atingido foi o relógio da destruição de Israel, localizado na Praça Palestina, um monumento que ironicamente marca há anos uma contagem regressiva fictícia para o suposto fim de Israel. As operações ainda miraram comandos da Guarda Revolucionária, responsáveis pela segurança interna e operações externas do regime, além do setor encarregado da propaganda ideológica. Segundo as autoridades israelenses, outros alvos governamentais sensíveis também foram atingidos. O Ministro da Defesa israelense não deixou margem para dúvidas: “Cada disparo contra Israel será punido“. A ofensiva ocorre em resposta direta aos recentes ataques iranianos e de seus aliados contra o território israelense. Israel demonstra, mais uma vez, sua capacidade de atingir com precisão alvos críticos dentro do próprio Irã, algo que há poucos anos parecia improvável. Este tipo de ação traz consequências graves para a já frágil estabilidade regional. Além de enfraquecer ainda mais o regime iraniano internamente, a escalada coloca a comunidade internacional em estado de alerta. A pergunta agora é até onde essa guerra velada entre Israel e Irã pode chegar. Por enquanto, Israel mostra que está disposto a ir longe para neutralizar as ameaças à sua segurança e deixar claro que ataques contra seu território não sairão impunes. Fonte: The Guardian, Reuters e Washington Post
Diário do Arbítrio: Moraes manda investigar juiz que discordou dele

Foi no final do século XIX que o ilustre jurista Ruy Barbosa defendeu uma de suas mais notáveis teses. Arguindo no Supremo Tribunal Federal, Barbosa conseguiu a absolvição do juiz gaúcho Alcides de Mendonça Lima da acusação de prevaricação. Lima era acusado de proceder contra a literal disposição da lei — e de fato o havia feito. Na época, os estados tinham seus próprios códigos processuais, e o Rio Grande do Sul havia editado o seu para que o tribunal do júri, entre outras coisas, passasse do voto secreto para o aberto. Lima declarou a mudança inconstitucional e presidiu um júri no formato antigo. No STF, o jurista baiano defendeu que nenhum juiz poderia ser alvo de ação penal por exercer sua jurisdição. Desde então, passou-se a considerar um absurdo a persecução de um magistrado por mera discordância de entendimento jurídico. De fato, em 2019, quando ministros do Supremo foram alvos de processos de impeachment por terem criado o crime de transfobia — fazendo uma analogia em prejuízo do réu, ao equiparar racismo à transfobia e romper com a doutrina vigente de que não existe crime sem lei anterior que o defina —, algo até então inédito no direito brasileiro, o então presidente Dias Toffoli e o ministro decano e também um dos alvos do processo, Celso de Mello, interromperam a sessão para se defender, citando justamente Ruy Barbosa. Um dos alvos do pedido de impeachment foi o ministro Alexandre de Moraes, que, apesar de ter se protegido sob o manto de Ruy Barbosa para criar um crime por analogia, não pensou duas vezes em mandar investigar juízes que deram decisões que contrariavam as suas. Em 2024, o juiz federal José Jácomo Gimenes, da comarca de Maringá, deu ganho de causa ao ex-deputado estadual Homero Marchese. A condenação de R$ 20 mil imposta à União despertou a fúria de Moraes. Gimenes reconheceu que, ao não justificar o bloqueio das redes sociais de Marchese e não desbloquear seu Instagram por meses — mesmo quando suas outras redes já haviam sido desbloqueadas —, a União havia incorrido em dano contra o ex-deputado. Avisado pela Advocacia-Geral da União do resultado do julgamento, Moraes cassou a decisão do juiz federal e ordenou que o Conselho Nacional de Justiça investigasse o magistrado. No final do ano, o CNJ arquivou a investigação, mas o recado era claro: discordar de Moraes pode custar caro — como está descobrindo o juiz Lourenço Migliorini Fonseca Ribeiro, da Vara de Execuções Penais de Uberlândia (MG). Na última semana, Lourenço recebeu um pedido de progressão de pena como tantos outros que chegam à vara. Nas Varas de Execução Penal, o espaço discricionário do juiz costuma ser menor do que em outras áreas da Justiça. A construção jurisprudencial do direito brasileiro faz com que, se as condições para progressão ou benefício estiverem sendo cumpridas, não haja muita escolha sobre o que fazer. De tal forma que, por exemplo, se um apenado tiver “direito” a progredir para o regime semiaberto e não houver estabelecimentos prisionais adequados ou sequer tornozeleira eletrônica, ele deve ser simplesmente solto — veja como essa decisão do STF foi celebrada à época. É provável que, ao receber o pedido de Antônio Alves Cláudio Ferreira, o juiz Lourenço sequer tenha associado o nome à figura. E fez muito bem. Afinal, aprende-se nas aulas de Direito que processos não devem ter capa. Se Antônio é o homem que se tornou nacionalmente conhecido por quebrar um relógio durante o 8 de Janeiro, isso é irrelevante para seu pedido. O que importa é se os requisitos para progressão existem. Se existem, ela deve ser concedida. É isso que se aprende nas aulas de Direito. É isso que repetidas decisões de tribunais superiores determinam. Mas é justamente esse entendimento que fez Moraes abrir uma investigação contra o juiz Lourenço. É natural que Moraes discorde de outros juízes. É natural até que ele reforme suas decisões. Mas é completamente inédito, mesmo para o Direito brasileiro, que um ministro do Supremo Tribunal Federal (ou de qualquer outro tribunal) acumule no mesmo processo os cargos de presidente do inquérito, relator, vítima, denunciante e, agora, corregedor de tribunais Brasil afora. O arbítrio não se encerra na abertura de um procedimento por “crime de hermenêutic“, mas se estende até Moraes declarar que a conduta do juiz deve ser apurada pelo próprio STF. Ao que tudo indica, o ministro quer garantir que o caso não termine em arquivamento, como ocorreu com o juiz anterior. Usualmente vocais para defender interesses particulares, as associações de magistrados permanecem caladas. Se são ágeis para garantir licenças-prêmio, remunerações acima de cem mil reais, e lutar para que não percam suas carreiras juízes que cometeram erros tão bárbaros quanto enviar uma adolescente de 16 anos para uma cela com mais de 30 homens, ninguém parece ter saído em defesa do juiz Lourenço. Ele deveria saber que não há crime pior do que discordar do Imperador.
Chemtrails: Lei anti-geoengenharia na Flórida vira palco de embate ideológico

O governador Ron DeSantis assinou hoje a SB 56, lei que proíbe qualquer forma de modificação artificial do clima ou geoengenharia no estado. A medida visa tornar crime o lançamento de substâncias na atmosfera com fins de alterar clima, temperatura ou intensidade da luz solar. A lei proíbe a injeção, liberação ou dispersão de qualquer substância na atmosfera com objetivo de manipular o clima ou a radiação solar Revoga leis anteriores que permitiam a emissão de licenças para modificação do clima, como semeio de nuvens. A lei classifica como crime de terceiro grau (considerado um crime de alta gravidade), com pena de até 5 anos de prisão e multa de até US$ 100 000. No caso de operadores e controladores de aeronaves, a multa máxima é de US$ 5 000. O Departamento de Proteção Ambiental (DEP) deverá criar um portal online e e‑mail para denúncias, além de investigar casos que mereçam apuração. A partir de 1º de outubro de 2025, aeroportos públicos devem enviar relatórios mensais ao DOT sobre aeronaves com equipamentos de geoengenharia — falta de informação pode levar à perda de verbas estaduais. Contexto político A senadora Ileana Garcia (Republicana – Miami), autora do projeto, afirmou que a lei busca “separar fato de ficção” diante de queixas sobre “chemtrails” — as famosas trilhas de condensação que se tornaram alvo de teorias conspiratórias. DeSantis reforçou que “a Flórida não será um campo de testes para geoengenharia” e que “o Free State of Florida” significa liberdade de governos ou atores privados que unilateralmente aplicam químicos no ambiente”. Já a deputada Anna Eskamani (Democrata – Orlando) criticou a lei, argumentando que ela “alimentará teorias conspiratórias” e “criará um ambiente de denúncias incessantes, onerando o departamento e a aplicação da lei“. “Chemtrails” é um termo derivado de “chemical trails” (trilhas químicas) e refere-se a uma teoria da conspiração que afirma que algumas trilhas deixadas por aviões seriam compostas por substâncias químicas ou biológicas lançadas intencionalmente na atmosfera. Supostos objetivos incluem controle climático, manipulação populacional, disseminação de doenças ou experimentos secretos. No entanto, cientificamente, essas trilhas são explicadas como contrails — condensação do vapor d’água presente nos gases emitidos pelos motores a jato, que forma cristais de gelo em grandes altitudes. Até hoje, não há provas confiáveis que sustentem a existência de chemtrails como prática real e intencional. Caminho legislativo — principais datas Relevância e similaridades A Flórida se tornou um dos primeiros estados a criminalizar totalmente quaisquer práticas de geoengenharia. Montana aprovou proibição, mas permite o semeio de nuvens; outros estados como Nova Jersey, Carolina do Norte e Pensilvânia discutem medidas semelhantes. Por que isso importa 1. Resposta política a teorias conspiratórias – A decisão reforça o ceticismo oficial sobre “chemtrails“. 2. Proteção legal preventiva – Ainda que nenhum programa conhecido esteja ativo, a lei protege contra possíveis experimentos não autorizados. 3. Implicações para segurança europeia – A polícia ambiental e aeroportos ganham novas responsabilidades, intensificando a fiscalização e penalização. Fonte: FLSenate
Ataque russo contra Kiev mata 7 pessoas

Um intenso ataque russo envolvendo mísseis e drones atingiu diversos distritos de Kiev durante a madrugada, causando ao menos sete mortes e dezenas de feridos. Os disparos destruíram a entrada de um prédio residencial na área de Shevchenkivskyi, onde moradores ficaram presos sob os escombros. Incêndios e destruição também ocuparam outras seis zonas da capital, atingindo até saídas de metrô usadas como abrigos, segundo autoridades ucranianas. No subúrbio, uma mulher de 68 anos foi morta e oito pessoas ficaram feridas. Com sirenes ativadas em toda a cidade, equipes de resgate trabalharam freneticamente no resgate de uma gestante e outros civis soterrados. Autoridades ucranianas criticaram veementemente a Rússia por atacar áreas densamente povoadas, acusando-a de “mirar onde há civis“. Desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, o número de vítimas civis em Kiev já ultrapassa centenas, e este ataque se soma a uma longa sequência de bombardeios que têm provocado destruição sistemática e elevado o temor da população. O ataque russo realizado nesta noite, segundo o Ministério da Defesa da Ucrânia, envolveu 352 drones e 16 mísseis, dos quais 146 drones Shahed foram interceptados e vários mísseis balísticos neutralizados. Ucrânia ainda mantém presença em Kursk. Enquanto a Rússia intensifica os ataques contra a Ucrânia, forças ucranianas ainda mantêm uma presença militar na região russa de Kursk. O comandante‑chefe ucraniano, Oleksandr Syrskyi, disse que cerca de 10 000 soldados russos estão engajados naquele setor, onde os ucranianos ainda controlam aproximadamente 90 km². Essa operação, iniciada em 6 de agosto de 2024, sinalizou uma mudança de estratégia por parte de Kiev: ocupar território russo para criar uma zona tampão, reduzir pressão sobre o leste ucraniano e atrapalhar o planejamento militar de Moscou. Apesar dos relatos russos de expulsão das tropas ucranianas, a Ucrânia afirma manter posições avançadas na região e continuar as ofensivas pressionando a fronteira. O movimento atraiu reforços russos — estimados entre 30 000 a 50 000 soldados, incluindo tropas da Coreia do Norte — que ajudaram na expulsão dos soldados ucranianos em pontos estratégicos com uso intensivo de drones e artilharia, segundo relatórios. A Rússia reivindicou vitória, mas Kiev contesta e ressalta que sua incursão obrigou Moscou a desviar tropas do front ucraniano. O ataque massivo a Kiev reforça duas preocupações centrais: a vulnerabilidade urbana diante da artilharia russa e a dependência de defesa aérea limitada. A presença ucraniana em Kursk também complica futuros eventuais cessar-fogos, pois agora qualquer acordo precisará lidar com questões de soberania e retirada obrigatória, enquanto Kiev reforça sua posição nas negociações. Com o conflito adentrando o quarto ano, tanto Ucrânia como Rússia demonstram determinação. No entanto, também deslizam perigosamente em um terreno onde a escalada da violência sem contrapartida diplomática ampliará os danos humanitários e arrastará a Europa para a iminência de um conflito continental mais profundo. Fontes: Reuters, BBC, BBC