Síria retoma transferências internacionais via SWIFT após 14 anos

Nesta quinta-feira (19), o governador do Banco Central da Síria, Abdelkader Husriyeh, anunciou que foi feita com sucesso a primeira transferência bancária internacional via SWIFT desde o início da guerra civil há 14 anos. A transação, realizada no domingo anterior, envolveu um banco sírio e uma instituição italiana, marcando uma retomada histórica da integração da Síria ao sistema financeiro global. A operação ocorre em um momento de acentuada reformulação econômica. A suspensão de sanções ocidentais – com os EUA aliviando restrições após uma reunião entre o presidente interino sírio Ahmed al‑Sharaa e o presidente Trump em maio, e a União Europeia removendo os embargos econômicos – criou condições favoráveis para a reentrada da Síria nos mercados internacionais. Husriyeh afirmou que outras transferências, inclusive para bancos norte-americanos, poderiam ocorrer nas próximas semanas, abrindo uma “porta ampla” para operações financeiras regulares. Ele presidiu uma conferência virtual com representantes de bancos sírios, instituições americanas e autoridades como o enviado dos EUA para a Síria, Thomas Barrack, estendendo convite a grandes bancos como JPMorgan, Morgan Stanley e Citibank para retomar relações de correspondência bancária. O reforço da conectividade bancária internacional é crucial para financiar a reconstrução do país devastado pela guerra e atender às necessidades da população, onde cerca de 90% vive em situação de pobreza, de acordo com a ONU. Além disso, esse movimento faz parte de um pacote de reformas econômicas mais amplo, liderados por Husriyeh e o governo interino, que inclui privatizações, liberalização do comércio exterior, restauração dos serviços bancários eletrônicos e preparação para emissão de sukuk – títulos islâmicos compatíveis com a sharia. Essas iniciativas, juntamente com a recente liquidação de dívidas com o Banco Mundial por parte de Arábia Saudita e Catar e a reabertura de negociações com o FMI, reforçam a perspectiva de que a Síria consiga se reestabelecer economicamente e progressivamente reconquistar a confiança de investidores internacionais Fontes: L’Orient Today, Financial Times, Reuters
Putin se dispõe a encontrar com Zelensky, mas impõe condições rígidas

O presidente russo Vladimir Putin declarou nesta quinta-feira (19), durante debate no Fórum Econômico de São Petersburgo, que está disposto a se reunir com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky — mas somente na “fase final” de um eventual acordo de paz. Putin condicionou qualquer avanço a limites drásticos impostos à Ucrânia: neutralidade, renúncia à adesão à OTAN, ceder cinco regiões (incluindo áreas ainda sob controle ucraniano), reduzir seu exército e suspender o recebimento de armamentos ocidentais. Essa oferta ocorre quase simultaneamente ao mais recente ataque aéreo russo sobre Kiev, no qual pelo menos 28 civis morreram e 130 ficaram feridos após uma série de mísseis que atingiram áreas residenciais. Zelensky, por sua vez, exigiu que a comunidade internacional pressione Moscou por um cessar-fogo e responsabilize formalmente a Rússia pelos danos infligidos à população civil. O cerco diplomático se reforçou nas últimas semanas. A proposta de um cessar‑fogo de 30 dias, apresentada pelos EUA em março, foi aceita pela Ucrânia, mas rejeitada por Moscou há cerca de 100 dias, de acordo com o ministro ucraniano Andrii Sybiha. Desde então, a Rússia continua bombardeando alvos civis e militares com mísseis e drones em larga escala. O saldo desse ataque contínuo inclui a morte de ao menos um cidadão americano em Kiev e diversos prédios residenciais em colapso, incluindo um edifício de nove andares atingido pela manhã de terça-feira, que registrou 23 mortes só nesse incidente. Como resposta, países como o Reino Unido e o Canadá impuseram recentemente novas sanções adicionais ao setor de defesa russo e reafirmaram pacotes de ajuda militar à Ucrânia. Putin também alertou a Alemanha para a possibilidade de retaliação caso Berlim forneça mísseis Taurus à Ucrânia, questionando a imparcialidade do país como mediador. Já o presidente Trump avaliou como incerto o momento ideal para enviar tropas americanas à Ucrânia e defendeu manter em aberto a diplomacia — posição similar à de Zelensky, que insiste que o tempo para negociar ainda está em aberto. Fonte: Washington Post, AP, Kyiv Independent
Irã usa munição cluster contra Israel enquanto Trump adia decisão sobre ataque militar

Pela primeira vez desde o início do conflito aberto entre Irã e Israel, as Forças de Defesa de Israel (FDI) afirmaram que um míssil iraniano equipado com ogiva de munição cluster foi lançado contra uma área densamente povoada no centro do país. O ataque, ocorrido na cidade de Or Yehuda e em localidades vizinhas, não causou mortes, mas provocou forte apreensão entre autoridades e moradores. Imagens verificadas por analistas independentes mostram submunições não detonadas — pequenas bombas que se espalham na explosão — em calçadas, pátios residenciais e até no estacionamento de um hospital. A munição cluster, banida por mais de 100 países sob a Convenção de 2008, é notoriamente imprecisa e perigosa para civis, pois muitas submunições não explodem imediatamente e podem detonar dias ou semanas depois. Nem Israel, nem o Irã, tampouco potências como Estados Unidos, China ou Rússia, aderiram à convenção. Segundo especialistas do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), o projétil lançado provavelmente pertencia a modelos iranianos como o Qiam ou o Khorramshahr, capazes de carregar dezenas de submunições explosivas. Este ataque marca uma escalada importante na guerra, iniciada há sete dias com bombardeios israelenses sobre alvos militares e nucleares em território iraniano. Desde então, Israel afirma ter eliminado pelo menos 10 comandantes de alto escalão iranianos, e o Ministério da Saúde do Irã confirma mais de 220 mortos no país. Em retaliação, Teerã já lançou mais de 400 mísseis contra Israel, sendo a maioria interceptada, mas alguns atingiram infraestrutura militar, áreas residenciais e até um hospital no sul de Israel, matando pelo menos 24 pessoas. Em meio a essa escalada, o presidente Donald Trump anunciou nesta quinta-feira que decidirá “dentro de duas semanas” se os Estados Unidos irão atacar diretamente o Irã. A declaração representa uma mudança de tom após dias de especulações sobre uma possível ação militar iminente por parte de Washington. Trump afirmou que ainda há “uma chance substancial” de negociações com Teerã, mas que a janela para a diplomacia pode se fechar rapidamente dependendo dos desdobramentos no campo de batalha. O recuo temporário dos EUA abre espaço para articulações diplomáticas. Na sexta-feira, representantes europeus devem se reunir com diplomatas iranianos em Genebra com o objetivo de retomar o diálogo sobre o programa nuclear iraniano — conversas que foram abruptamente suspensas após os ataques israelenses. O chanceler britânico David Lammy, que participará do encontro, declarou que “a situação continua perigosa, mas existe uma oportunidade diplomática que não pode ser desperdiçada.” Por outro lado, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu reiterou que Israel é capaz de alcançar todos os seus objetivos militares sozinho, embora tenha reconhecido que forças aéreas dos EUA ajudaram na interceptação de drones iranianos. Netanyahu também confirmou, em entrevista à televisão pública israelense, que mísseis iranianos com ogivas fragmentadas já atingiram o território israelense, embora não tenha usado explicitamente o termo “munição cluster”. A guerra, que já provocou centenas de mortes e milhares de feridos em ambos os lados, pode estar entrando em uma fase ainda mais perigosa. O uso de armas de alta letalidade contra áreas civis, a possível participação militar americana e o colapso das negociações nucleares desenham um cenário de escalada regional com consequências imprevisíveis. Enquanto isso, a população civil — tanto em Teerã quanto em Tel Aviv — segue em alerta, tentando sobreviver em meio a sirenes, bombardeios e incerteza. Fontes: New York Times, New York Times